Uma ressaca deixa marcas, seja o day after, quando o organismo inquire o corpo sem piedade, perguntando com estrondo à cabeça: o que é que fizeste na noite passada? Com maior ou menor clarividência há que retomar as rédeas do senso, e foi o que fez um ilustre cliente do Waldorf em Nova Iorque, numa alegada manhã de 1894.
Na sala estava o Oscar Tschirky, o famoso maître do luxuoso hotel, que viu um rapaz galã entorpecido pedir-lhe dois ovos escalfados, bacon do Canadá, pão muffin inglês torrado, e molho holandês (emulsão quente de gemas, limão e manteiga clarificada). A ideia era ingerir algo nutritivo, que alimentasse sem pesar no estômago.
Consta que foi o cliente, Lemuel Benedict, que montou a preparação, colocando pão torrado com manteiga na base do prato, um ovo escalfado em cima, molho holandês a cobrir o ovo, e bacon no topo. A ideia não passou ao lado do maître, que está também na origem da popular salada Waldorf, e nasciam assim os “ovos Benedict”, que entraram para a carta fixa do hotel.
A polémica é que o chefe Charles Ranhofer do restaurante contemporâneo Delmonico’s, afirmava ser ele o autor, a pedido de uma cliente sua, Sarah Benedict. Ranhofer publicou em 1894 o livro “The Epicurien”, onde figura a receita, enquanto Tschirky só lançou o seu “The Cook Book” em 1896, onde não consta a receita. É intemporal e uma boa forma de despertar ou apenas jantar.