O diretor nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, falou esta terça-feira em conferência de imprensa sobre a operação que investiga casos de alegada corrupção da Madeira. Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional da Madeira, é o principal arguido do caso que envolve ainda o ex-presidente da Câmara do Funchal, Pedro Calado, e dois empresários.
Luís Neves começou por afirmar que veio “repor o rigor dos factos”. A operação “não foi comprometida”, garantiu, e a ação da PJ foi “eficaz a 100% uma vez que nenhum dos visados foi antecipadamente alertado”.
A PJ viajou sozinha para a Madeira, “sem MP e sem jornalistas”. O transporte dos investigadores foi preparado pela PJ e o Estado-Maior da Força Aérea “no mais completo sigilo”. A PJ “não se revê na fuga de informação e procura evitar que ela possa ocorrer”, acrescentou Luís Neves. “A comunicação social não teve conhecimento antecipado na operação. Nem acompanhou as buscas.”
Quem determina ordens de missão é a PJ, frisou. “A execução da operação deve ser explicada à luz dos princípios da necessidade e proporcionalidade de meios.”
Luís Neves disse ainda que a PJ levou 140 inspetores e 10 especialistas de polícia científica do continente e contou ainda com a colaboração de 24 inspetores da PJ do Funchal, “e não 300 inspetores como foi erradamente escrito na comunicação social”. Foram emitidos “107 mandados de busca na Madeira. E 25 no continente” numa operação que, dada a sua dimensão, apelida de “inédita”. A investigação “tem 2 a 3 anos, sem certezas”, respondeu ainda.
“Toda a prova apreendida foi colocada na sede da PJ, e colocada à disposição do MP em 28 horas. Algo que nunca teria acontecido se a viagem fosse feita em voos comerciais.” Os aviões da Força Aérea foram “o melhor meio” para desencadear a operação. “Transportámos mais de uma tonelada de prova digital para Portugal continental.” E acrescenta: “Há muito material digital. Ou fazemos uma busca por arrastão, que pode levar à paralisação de um serviço e apreender material de pessoas que nada têm a ver com a investigação. A recolha de prova foi cirúrgica. Algum já está validado, outro ainda está a ser analisado.”
Operação sem nome
“Estava a ser colocada a idoneidade desta operação da PJ”, justificou Luís Neves, quando inquirido do timing desta conferência de imprensa, quase uma semana depois da operação ter sido desencadeada.
Nem todas as operações da PJ têm nome, disse ainda o número da PJ, explicando porque razão não foi desta vez batizada esta mega-investigação. “Desconheço o número de arguidos”, acrescentou.
O timing da operação? “Uma operação desta envergadura requer muito tempo de preparação. É preciso recolher informação dos locais e rotinas dos visados. Isto leva meses. Ela foi planeada no final de setembro do ano passado.” Mais concretamente, logo após as eleições da Madeira, a 24 daquele mês.
Quanto às críticas de líderes partidários sobre os timings das buscas das operações policiais, Luís Neves garante: “Não temos hipóteses de fazer calendário. Se formos fazer antes é porque fazemos antes. Fomos para o terreno. A operação foi preparada dois meses.” E acrescenta: “Não nos podemos inibir e ter medo de fazer o nosso trabalho.”
E o facto de os três arguidos estarem detidos hà seis dias para serem ouvidos em primeiro interrogatório judicial? “Não temos nenhum gozo em que as pessoas estejam detidas”. E explica os formalismos: “O MP tem muita matéria para expor. A defesa tem trabalho de consultar provas. Trata-se de um processo com muita prova. Não vejo que possa haver outro formalismo.”