Sociedade

Johnny Alf (1929-2010)

Morreu ontem um dos precursores da bossa nova. Músico brasileiro Johnny Alf tinha 80 anos. (Veja no final do texto vídeos colocados no YouTube)

Maria Luiza Rolim (www.expresso.pt)

Pianista, cantor e compositor, Alfredo José da Silva ou Johnny Alf - alcunha que lhe foi dada por uma amiga americana - é considerado pelo como "o verdadeiro 'pai' da bossa nova", pelo jornalista e escritor brasileiro Ruy de Castro .

O músico Tom Jobim, outro pioneiro da bossa nova, considerava-o "genial". Era também o grande ídolo de João Gilberto e Carlos Lyra, entre outros músicos brasileiros.

"Rapaz de Bem", lançada em um single junto com "O Tempo e o Vento" (1956), ambas de sua autoria, é apontada por especialistas como "a mais bossa nova das músicas que antecederam a bossa nova, estilo que só adoptaria essa nomenclatura em 1958 com o clássico "Chega de Saudade" (Tom Jobim/Vinícius de Moraes), pela voz e guitarra de João Gilberto.

"Arquitecto brilhante de harmonias"

Nascido no Rio de Janeiro, começou desde cedo a aprender piano. Os estudos de música clássica, porém, tiveram pouca influência na sua criação artística. Segundo confessou, o que teve mais impacto foram os filmes musicais norte-americanos cujas banas sonoras levavam a assinatura de músicos importantes como George Gershwin e Cole Porter.

"Era o que acendia aquela vontade interior de criar alguma coisa. Então, quando voltava do cinema, ainda sob o impacto dos filmes, sentava-me ao piano e fazia coisas com a influência do que tinha ouvido".

Havia também o jazz, em especial o trio do pianista e cantor Nat King Cole, estilo musical de que era grande admirador desde a adolescência.

O jornal "O Estado de S.Paulo" refere que Johnny Alf "antes instrumentista, compositor e arquitecto de harmonias de movimentos surpreendentes, não tardou a impressionar como cantor, sendo pioneiro também no uso da voz como instrumento".

No início dos anos 1950, formou o seu primeiro grupo musical no Instituto Brasil-EUA. Nessa década, começou a apresentar-se na noite carioca e nas rádios. Dessa época, são as músicas "Estamos Sós", "O que é amar", "Podem falar" e "Escuta", reunidas no álbum "Convite ao Romance" de Mary Gonçalves, que ajudou a lançar a sua carreira.

Em 1954, mudou-se para São Paulo.

13 álbuns, 50 anos de carreira

Em quase 50 anos de carreira, Johnny Alf gravou apenas 13 álbuns.

O primeiro LP, "Rapaz de Bem", só seria publicado em 1961, consagrando outros clássicos de suas autoria, tais como "Ilusão à Toa" e "O Que é Amar", que se tornaram obrigatórios em todos os seus concertos.

O autor de "Eu a a Brisa", um dos seus maiores êxitos lançado no III Festival da Música Popular Brasileira em 1967, apresentou-se pela última vez em Maio de 2009, ao comemorar o 80.º aniversário de nascimento com uma série de concertos no Sesc Pinheiros, em São Paulo, ao lado de Alaíde Costa e Emílio Santiago, nomes consagrados da MPB.

Um das suas últimas aparições foi em São Paulo, em 2008. na "Bossa na Oca", exposição comemorativa dos 50 anos da bossa nova, ocasião em que teve um encontro virtual com Tom Jobim, Frank Sinatra, Ella Fizgerald e Stan Getz. Num filme exibido ao longo do evento, Alf tocava piano tendo como pano de fundo a projecção das imagens desses artistas, já falecidos.

O antigo cabo do Exército que no início dos anos 1950 dividia o seu tempo entre o quartel e os bares nocturnos onde se apresentava como cantor, vivia num lar para idosos em São Paulo.

Estava internado no Hospital Estadual Mário Covas, na capital paulista, onde faleceu ontem, de cancro.