Diz que tem a loucura dos aviões. Já era formado em Psiquiatria quando pensou em ser piloto comercial. Ainda chegou a falar com um responsável de uma companhia aérea que fazia voos internos. "Oh, senhor doutor, tenha mas é juízo!", foi a resposta que recebeu. Hoje, passados 24 anos, José Gameiro, psiquiatra e membro fundador da Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar, não se arrepende - mas a paixão pelos céus e pela pilotagem não esmoreceu.
Religiosamente, todos os fins-de-semana, dá a sua "volta dos tristes", melhor, "vai passear o cão", como ele próprio o diz. Tira o seu monomotor do hangar no aeródromo de Tires e vai voar durante 15, 20 minutos nos arredores de Cascais.
Mas já tem ido mais longe. "Já fui a Paris, a Marrocos e fiz muitas voltas a Portugal." O grande sonho que nunca chegou a realizar foi atravessar o Atlântico e ir ao Brasil. Mas José Gameiro ainda ambiciona ir à Madeira. Em termos técnicos, diz que é possível fazê-lo num monomotor, mas ainda não conseguiu vencer o receio de acontecer algum imprevisto por cima do mar alto.
A sua "maluquice dos aviões" não se manifesta apenas pelo gosto de pilotar. Sempre que sai de casa olha para o céu quando ouve o barulho de um avião, e, dos três livros que lê ao mesmo tempo, um é sempre sobre aviões.
José Gameiro já levou toda a família no monomotor e os amigos também são companheiros de viagem. Foi aliás com um dos passageiros mais frequentes, um amigo de longa data que costuma também partilhar as viagens por motivos profissionais, que o psiquiatra passou a única situação de emergência que teve até hoje. O trem de aterragem não bloqueava e Gameiro e o amigo tiveram de regressar a Tires, onde conseguiram fazer uma "aterragem tranquila".
José Gameiro nunca levanta voo sem fazer todos os procedimentos da check list. Quando há mau tempo não voa, e não se aventura em viagens nocturnas, apesar de já ter feito algumas.
Ter um avião "não é um luxo, é um gozo". O psiquiatra prefere o avião ao carro e à moto, que, aliás, também conduz. Confessa que manter um avião é caro, mas explica que é uma questão de escolhas.
Gameiro já tentou promover em Portugal um conceito bastante usual noutras partes do mundo, como em Inglaterra: a partilha de aviões, em que um grupo de aviadores usa o mesmo aparelho, repartindo os custos. Mas, por cá, a ideia não vingou.
José Gameiro promete pilotar até morrer ou, pelo menos, até que o Instituto Nacional de Aviação