Imagine uma bifurcação a aproximar-se. Portugal está no momento imediatamente anterior a esse ponto: tem de decidir por qual dos dois ramos vai caminhar na estrada da pandemia de covid-19. A responsável pela necessidade desta decisão é a variante Ómicron. Mais transmissível, embora menos agressiva, a estirpe chegada há cerca de um mês foi capaz de rapidamente alterar as regras do jogo. O próximo ano inicia-se com números nunca vividos e pode mesmo chegar-se às 37 mil infeções, revelou a ministra da Saúde, Marta Temido. Prevendo-se uma duplicação dos casos, algo a que esta estirpe já nos habituou, se na próxima semana observarmos 20 mil casos a uma média de sete dias, poderemos chegar aos 800 mil isolados — 800 mil pessoas ‘em casa’. As contas são do bioestatístico Milton Severo, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), e têm pouca diferença para os cálculos do matemático Óscar Felgueiras, conselheiro técnico do Governo, que aponta para 600 mil pessoas isoladas. Numa acumulação de 10 dias de isolamento, poderemos chegar a 6% a 8% da população portuguesa ‘em casa’.
No entanto, nesta fase cada um dos casos de covid-19 não significa o mesmo que a memória coletiva insiste em nos lembrar. A 29 de dezembro de 2020 o país registava 74 mortes com 3336 infetados — 2,2%. Esta quinta-feira, um ano depois, registaram-se 12 com quase 27 mil casos — 0,05%. “Somos cada vez mais portadores [de vírus] do que doentes”, reflete o microbiologista Carlos Cortes. “A Ómicron está a tornar a covid-19 uma doença diferente. Esta é outra pandemia.” Cortes pede uma nova abordagem.
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