A decisão da Direção-Geral de Saúde sobre a redução do período de isolamento para os casos positivos de covid-19 será conhecida "nas próximas horas" e divulgada ao público esta quinta-feira.
“Portugal está a fazer o mesmo que os outros países, que é equacionar a redução do período de isolamento com segurança”, afirmou Graça Freitas em entrevista ao 360, na RTP3.
Segundo a diretora-geral de Saúde, à hora de entrevista (21h) a questão estava ainda a ser avaliada. No entanto, adiantou que “a vacinação não vai interferir [na duração] do período de isolamento”, mas que este poderá ser reduzido para infetados assintomáticos, que têm menos probabilidade de contagiar outros.
Sobre este tema, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, já tinha dito em declarações à SIC que estão a ser avaliados vários indicadores, nomeadamente a incidência e a transmissibilidade da infeção e os internamentos.
Na tarde desta quarta-feira, a Madeira anunciou que vai reduzir o período de isolamento dos assintomáticos e contactos para cinco dias. Questionada sobre esta antecipação, a diretora-geral relativizou, considerando tratar-se de autoridades diferentes com métodos de trabalho diferentes, que mesmo com discrepância de dias têm tomado medidas geralmente no mesmo sentido. “Isto não é uma corrida”, afirmou.
Nos Estados Unidos, onde a Ómicron também já é a variante predominante, a duração do período de isolamento para casos assintomáticos foi reduzida de dez para cinco dias. O CDC (Centros de Controlo e Prevenção de Doenças norte-americano) refere que os infetados são mais contagiosas dois dias antes e três dias depois de desenvolverem sintomas. No Reino Unido o isolamento dos infetados é agora de sete dias.
No entanto, a Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, citada pela Lusa, considera que a informação científica em que se baseia a redução deste período "não é muito robusta" e defende a necessidade de discutir as vantagens da medida.
Novo paradigma de combate à pandemia pode passar por autovigilância
Graça Freitas avançou ainda que está em cima da mesa "uma mudança de paradigma". A confirmar-se, os doentes assintomáticos ficarão em autoisolamento e autovigilância, monitorizando os próprios sintomas e só contactando a linha SNS24 se surgirem sintomas. A diretora-geral compara este regime ao que já é habitual fazer-se em casos de gripe, em que só contactamos com serviços se houver necessidade.
Na mesma linha, acrescentou que neste momento a tendência seja “rastrear e isolar os coabitantes de doentes, porque são os que estão em maior risco”.
Casos diários poderão chegar aos 50 mil
Durante a entrevista, Graça Freitas afirmou que a previsão de 37 mil casos diários avançados pela ministra da Saúde esta terça-feira pode não ser o pico desta vaga. A diretora-geral da Saúde deu conta que existem previsões posteriores a 7 de janeiro em que os números diários poderão atingir os 50 mil novos casos. “Prevê-se subida exponencial rápida e descida simétrica.”
Questionada sobre o entupimento do sistema causada pela explosão de casos registada nos últimos dias e sobre uma eventual falha na preparação logística para dar resposta às previsões epidemiológicas, a responsável da DGS realçou a rapidez com que esta variante evoluiu. “Os dados existem, mas tudo isto foi muito rápido, quer as movimentações do vírus quer como nós nos reinventarmos. A Ómicron apareceu na Europa há um mês.”
Para a diretora-geral, o problema do entupimento não se limita ao SNS24. “Todos os eixos de sistema de saúde funcionam em rede e complementarmente vão dando resposta. Há aqui uma série de pilares do sistema [SNS24, testagem, médicos de família] que agora vão ter de ser abordados de outra forma”
E acrescentou: “cada uma destas variantes tem características, comportamentos e impactos diferentes nos serviços e saúde das pessoas. Temos de ter a flexibilidade para dar respostas diferentes a cada variante. Temos de ir adaptando as medidas de saúde às caraterísticas de cada variante.”
Para já, “o apelo é que as pessoas que precisam menos não sobrecarreguem as linhas”, acrescenta.
“Não há um caminho linear que nos faça prever qual será o caminho deste vírus”
Durante o dia de hoje foram vários os especialistas a abordar a possibilidade de a Ómicron ser o início do fim da pandemia, tornando a covid-19 numa doença sazonal e endémica. No entanto, Graça Freitas afirma que tais considerações são "prematuras" e não têm para já base científica, sublinhando que o futuro da pandemia permanece uma "incógnita".
“Não há um caminho linear que nos faça prever qual será o caminho deste vírus”, afirma. “Já vamos na quinta vaga e genericamente pode dizer-se que cada vaga teve associada uma variante diferente. Nada nos garante que a Ómicron será a última. Temos visto vírus que são quase diferentes de variante para variante."
A diretora-geral de Saúde acrescenta que embora o vírus tenha perdido intensidade, “não quer dizer que vá continuar a perder”. “Muitas das verdades do passado não são verdade hoje. Eu não sei qual será a variante seguinte, por isso tenho de ter cautela.”
Vacinação infantil: “começo foi seguro”
A entrevista abordou também a vacinação infantil, que no primeiro fim de semana terá chegado a 100 mil crianças. A responsável da DGS recusa que este número constitua um fracasso. “O começo não foi estrondoso, mas também não foi demasiado duro. Foi um começo seguro.”
Graça Freitas considera que os pais tiveram entretanto tempo para se informarem sobre a segurança da vacina pediátrica e diz que a expectativa será que haja adesão à vacinação, nomeadamente de 6 a 9 de janeiro, quando será feito um “grande esforço de vacinação”.
Relativamente ao autoagendamento para as crianças dos 5 aos 11 anos, aberto esta quarta-feira, a estimativa é que tenham sido feitos entre 50 a 60 mil agendamentos neste primeiro dia.
[notícia atualizada às 22h44]