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Coronavírus

Covid. Se esteve nos festejos do Sporting, este texto é para si (mas também para as autoridades de saúde): os conselhos dos especialistas

Especialistas ouvidos pelo Expresso deixam recomendação a quem esteve na rua a festejar a vitória do Sporting

MIGUEL A. LOPES

Tendo em contas os milhares de pessoas que se juntaram em Lisboa na noite de terça-feira para celebrar a conquista do Sporting, o virologista Paulo Paixão considera que “fazia sentido organizar um rastreio em massa” para acautelar eventuais consequências. “Se fosse autoridade de saúde pública, perante este evento não controlado era o que faria”, diz ao Expresso o presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia.

Ainda que Portugal viva agora uma situação menos preocupante, com menos pessoas infetadas - “o que seria se isto tivesse acontecido há dois meses?”, questiona Paulo Paixão -, os especialistas alertam para o risco de contágio, considerando que muitas pessoas estavam sem máscara, e recomendam que quem esteve nos festejos esteja atento a eventuais sintomas e que avance mesmo para a realização de testes. “Em alternativa a um rastreio organizado, as pessoas podem tentar entrar em contacto com o seu médico ou com a linha SNS24”, sublinha Paulo Paixão, ou podem optar por fazer o vulgarmente chamado teste rápido.

Realizar um teste é o que defende também o epidemiologista Manuel Carmo Gomes: “As pessoas devem procurar ser testadas nas 48/72 horas seguintes ao evento, portanto a partir desta quinta-feira, isto se for um teste PCR. Se for um teste TRAg, sugiro que o teste seja repetido no 3º e 4º dia após o evento - caso tenha feito outro antes e esteja negativo”.

Em caso de teste positivo, a recomendação do especialista é que a pessoa infetada cumpra isolamento e contacte a linha SNS24.

Como forma de minimizar os riscos, Carmo Gomes também diz ao Expresso ser conveniente que os jovens presentes nos festejos que eventualmente convivam “com pessoas mais velhas ainda não vacinadas” evitem qualquer contactos com essas mesmas pessoas “antes de saberem a sua situação”.

“É de esperar que possam ocorrer pequenos surtos causados pelo evento. O evento ocorreu ao ar livre, em ambiente fechado teria sido muito pior, mas vi imagens de pessoas muito perto umas das outras, sem máscara e aos gritos - se alguma estava infetada, pode perfeitamente ter infetado outras”, acrescentou.

Proteger os contactos mais vulneráveis

O presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, também aconselha cautelas. Talvez “alguns excessos fossem inevitáveis, mas se calhar podia ter havido um melhor planeamento ou maior controlo, nomeadamente do consumo de álcool” nas ruas, começa por declarar o especialista. “Quem esteve a celebrar” deve “estar atento a eventuais sintomas e reforçar os comportamentos individuais e medidas de segurança”, sobretudo “protegendo contactos mais vulneráveis para limitar os riscos”.

Considerando que a doença pode dar sinais a qualquer momento, “durante 14 dias há que estar atento”, lembra Ricardo Mexia.

O investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Carlos Antunes considera que, face à atual prevalência de covid-19, o risco de os festejos do Sporting desencadearem um descontrolo epidemiológico é baixo, mas aconselha que se façam autotestes.

“Do ponto de vista matemático, sabendo a natureza do contágio desta doença, o risco é baixo. Por cada 10 mil que lá estiveram sairão de lá quatro pessoas infetadas”, explicou à Lusa.

Já se o evento tivesse sido realizado em janeiro, adiantou, com uma taxa de incidência de 2%, os valores eram 20 vezes mais, com uma percentagem elevada de infetados.