Coronavírus

Covid-19. Só a segunda dose da vacina garante proteção significativa entre os mais velhos

Estudo do Instituto Gulbenkian de Ciência avaliou efetividade da vacina da Pfizer em pessoas com mais de 70 anos. A maioria dos idosos não desenvolveu anticorpos com a primeira das duas doses previstas, mas apenas com a segunda toma. E 5% não apresentaram defesas específicas para o novo coronavírus após a vacinação completa

GUILLAUME HORCAJUELO/EPA

A esmagadora maioria – 95% - das pessoas mais velhas vacinadas desenvolvem anticorpos específicos para o novo coronavírus, mas apenas após a segunda dose. Foi esta a conclusão a que chegaram os investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), que realizaram um estudo sobre a efetividade da vacina contra a covid-19 em pessoas com mais de 70 anos.

E se os resultados são “promissores para a construção da imunidade de grupo”, já que confirmam em contexto real que a vacina confere proteção mesmo nas faixas etárias mais altas, também obrigam a não descurar as medidas de proteção individual enquanto o processo de vacinação não está concluído e mesmo depois.

“Comparativamente com dados obtidos em populações mais novas, este estudo mostra que a resposta à primeira dose é muito mais ténue nas faixas etárias mais altas e que há uma fração destas pessoas que não desenvolve anticorpos após a segunda dose”, notam os investigadores do estudo que está a ser apresentado esta tarde.

Para este estudo, a equipa do IGC monitorizou a evolução de 146 pessoas com mais de 70 anos residentes em lares de Almeirim e que foram todas imunizadas com a vacina da Pfizer. Ao fim de três a quatro semanas após a primeira dose, apenas 25% tinham desenvolvido anticorpos e estavam de alguma forma protegidas. Três semanas após a segunda dose esse valor subiu para 95%, sendo que nos restantes 5% não foram encontrados anticorpos específicos para este coronavírus.

A segunda dose da vacina é, por isso, “essencial para maximizar a resposta vacinal por anticorpos” e o intervalo entre as duas inoculações pode ser um “período de suscetibilidade para muitas pessoas neste escalão etário”.

“Já sabíamos que o sistema imunitário das pessoas mais idosas não responde a infeções e a vacinas da mesma forma que o das pessoas mais jovens. Verificámos que este princípio se aplica, também, a esta vacina” explica Carlos Penha Gonçalves, investigador do IGC e coorganizador do estudo realizado em parceira com a Câmara Municipal de Almeirim e o Agrupamento de Centros de Saúde da Lezíria.

Conhecer a resposta à imunização nas diferentes faixas etárias é essencial para ir definindo as políticas de vacinação, nomeadamente quanto à necessidade de algumas pessoas serem revacinadas.

Quanto aos 5% dos participantes que não desenvolveram anticorpos específicos para o SARS-CoV-2, é preciso estudar agora as causas, sublinha a também coorganizadora do estudo e imunologista do IGC, Jocelyne Demongeot, lembrando que este valor está dentro do expectável.

Para o presidente da Câmara de Almeirim, Pedro Ribeiro, importa também ter em conta estes resultados, que atestam a proteção conferida pelas vacinas contra a covid-19 para rever as premissas que têm ditado o funcionamento do país no último ano. “Não podemos continuar apenas a raciocinar em termos de número de casos, mas temos de o fazer, também, em termos de risco”, apela.

Os últimos dados da vacinação em Portugal indicam que quase toda a população com idade superior a 80 anos já tem uma dose da vacina e 60% as duas tomas. Na faixa etária 65-79 anos, as percentagens são de 42% e 4%, respetivamente.