Thierry Breton tem uma missão: garantir que os obstáculos na produção de vacinas são ultrapassados e as doses entregues aos europeus o mais rapidamente possível. Resolver os problemas com AstraZeneca (AZ) é um dos grandes desafios. O comissário que tem a pasta do Mercado Interno não é suave nas críticas à farmacêutica anglo-sueca. "Se a AstraZeneca tivesse cumprido com as entregas tal como fez com a Grã-Bretanha, hoje estaríamos numa melhor situação que a Grã-Bretanha", afirma ao Expresso. Até ao final de março, deveriam ser entregues 120 milhões de doses, mas as entregas ainda não chegaram aos 30 milhões. "É inaceitável", atira Breton. "A AstraZeneca cumpriu integralmente com o Reino Unido, mas é estranho que não consiga fazê-lo com a União Europeia."
O comissário francês acusa a empresa de falta "transparência" - coisa que existe com a Pfizer - e que por isso o que tem feito é ir ele próprio ao terreno, às fábricas da AZ, "ver com os próprios olhos" e quando isso não é suficiente ou possível, entra em contacto com os Estados-membros. Foi do gabinete de Breton que saiu a indicação que levou as autoridades italianas a visitarem a fábrica da empresa Catalent, em Anagni, onde foram encontrados 29 milhões de doses, tal como foi notícia esta quarta-feira. "É importante porque é desta empresa que saem todas as vacinas da AstraZeneca que são distribuídas na Europa". Segundo a AZ, 16 milhões dessas doses são para serem entregues aos 27 nos próximos dias e em abril. Mas há mais. "Disseram-nos que há 13 milhões desta vacina que são destinados aos países de baixos rendimentos, no quadro do programa Covax, e agora vamos verificar se isso é verdade", avisa Breton, referindo ainda que na fábrica "havia também substâncias de vacinas, em número importante, para serem transformadas e colocadas em frascos".