O Presidente da Síria, Bashar al-Assad, e a sua mulher, Asma, estão com covid-19, segundo um comunicado emitido pelos próprios e divulgado pelas agências internacionais de notícias. Estão com “sintomas ligeiros" e vão continuar a trabalhar: “Ambos dão sinal de estarem de boa saúde, estáveis, e vão continuar a trabalhar a partir de casa durante as duas semanas que duram a quarentena”, diz o comunicado.
Os números relativos à pandemia na Síria, um país com uma guerra que faz este mês dez anos, não são conhecidos. Há várias razões para estas falhas na informação: algumas são políticas, já que o regime não quer dar mais nenhuma razão para o enorme descontentamento que se instalou - por causa da situação económica que está a deixar supermercados vazios e cidadãos sem forma de pagar as suas casas -, outras são de ordem logística (em causa está o facto de não haver testes suficientes e de não se fazerem exames específicos nem autópsias a todos os mortos). Por isso, o número de infectados e óbitos atribuídos à covid-19 não dizem muito sobre a real situação do país.
A página “Our World in Data”, que recolhe dados de várias fontes sobre a progressão da covid-19 no mundo, mostra que já morreram 1063 pessoas na Síria, mas o próprio site avisa que “muito provavelmente” o número real é “muito mais elevado”. Até ao dia 7 de março, tinha-se registado um total de 15.753 casos no país desde o início da pandemia, com uma média de 50 casos por dia na primeira semana de março, segundo a mesma página. "A partir de 10 de fevereiro ou mais ou menos nessa época, começamos a ver um aumento nos casos", disse à Reuters Nabough al-Awa, médico em Damasco, capital da Síria.
Só na província de Idlib, no noroeste do país - na fronteira com a Turquia e para onde foram deslocadas as populações que foram obrigadas a fugir da Síria - as autoridades locais dizem ter registado 227 mortes e 11.515 casos desde dia 1 de fevereiro, o que torna quase impossível acreditar nos números oficiais de casos e mortes. A zona é um emaranhado de forças em confronto e é uma das poucas áreas onde ainda existem guerrilhas de rebeldes anti-Assad. Mas ao mesmo tempo estão também presentes vários grupos terroristas, e tropas de algumas das mais importantes potenciais militares do mundio: a Turquia (anti-Assad), tenta garantir que a província não é bombardeada por tropas do regime, enquanto Rússia e Irão querem ajudar a devolver a totalidade do território a Assad. O cessar-fogo assinado em março de 2020 entre a Turquia e a Rússia tem evitado confrontos de grande dimensão mas o regime sírio, com aviões russos, já quebrou várias vezes o acordo. Tudo isto tem colocado a província no radar de várias organizações não-governamentais que descrevem as condições de vida nesta área como um desastre humanitário, um dos mais longos e mais graves do mundo.
Por causa do colapso da economia no país (um dólar são agora 3.360 libras sírias, antes da guerra esta relação era de 1 para 50), as medidas do confinamento nunca foram muito restritas, para evitar que o pouco comércio que continua a fazer girar a economia fechasse.
"Não tenho percentagens precisas porque sou apenas um médico, mas também converso com meus colegas. Se eu, no ano passado, via na minha clínica dois ou três casos por dia e agora vejo vejo cinco ou seis…”, argumentou al-Awa. Na semana passada, a Síria começou a vacinar os profissionais de saúde e outros profissionais potencialmente mais expostos à infeção mas não há muito mais dados sobre o plano de vacinação.
O Governo impôs o recolher obrigatório em todo o país quando a pandemia chegou, mas progressivamente, a partir de maio do ano passado, restaurantes, lojas e escolas foram reabrindo e nunca mais encerraram. O uso de máscara é obrigatório em escritórios do governo e em transportes públicos, mas uma das maiores dificuldades que a população enfrenta é mesmo a impossibilidade de seguir as regras de higiene mais básicas, devido aos constantes cortes no abastecimento de água e de electricidade. Awa disse também à Reuters que a maioria das escolas na Síria não tem acesso a quartos de banho funcionais, não há saneamento, e só em algumas há água corrente para que os alunos possam lavar as mãos com frequência. "Essas coisas podem ajudar a reduzir os números em países onde o confinamento total é difícil", disse o médico.