Coronavírus

Covid-19. Almirante revê regras e quer farmácias no processo de vacinação

Primeiro, eram os centros de saúde e o SNS. Os farmacêuticos alertaram para o que se faz na Europa. E o novo coordenador do plano de vacinação não tem dúvidas: se querem vacinar 100% da população até ao fim do ano, há que contar "com outros agentes", incluindo as farmácias

Henrique Gouveia e Melo, à direita, com o presidente do Infarmed, Rui Santos Ivo
ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Henrique Gouveia e Melo, o novo coordenador da 'task force' para a vacinação covid conta com as farmácias como parte ativa no processo. Depois duma primeira fase em que o Ministério da Saúde começou por afastar as farmácias centrando a vacinação nos centros de saúde, Gouveia e Melo veio esta terça-feira admitir que as farmácias devem integrar o processo.

Prevendo que o ritmo de vacinação no segundo trimestre do ano possa aumentar para "81 mil vacinas por dia" (caso as farmacêuticas cumpram as entregas previstas), o vice-almirante que substituiu Francisco Ramos na 'task force' foi claro: isso obrigará a “ter de encontrar outras soluções”, que “podem passar por novos métodos de administrar a vacina”. Por exemplo, “postos de vacinação rápida, ou postos de vacinação maciça, alargar o período — aos fins de semana — ou usar outros agentes, como as farmácias”.

“Todas estas opções estão em aberto e podemos usá-las em simultâneo”, insistiu Gouveia e Melo, em entrevista à TVI 24. Indo assim ao encontro das organizações representativas das farmácias que há meses dizem querer ter um papel neste processo.

No início de dezembro, em conferência de imprensa, a ministra da Saúde, Marta Temido garantiu que numa primeira instância a vacina só seria administrada pelo Serviço Nacional de Saúde, excluindo as farmácias. O que motivou uma posição conjunta da bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, da presidente da Associação de Farmácias de Portugal e do presidente da Associação Nacional das Farmácias a contestar a ideia da ministra.

"Cabe ao Ministério da Saúde fazer essa opção, mas seria incompreensível que Portugal, tendo uma das melhores redes de Farmácias da Europa, com mais de 5000 farmacêuticos habilitados para administrar a vacina, não utilizasse esta capacidade instalada para executar o Plano de Vacinação covid-19", declararam em comunicado. Convidando o Governo a "observar o que se está a fazer noutros países, como o Reino Unido, os Estados Unidos, a Irlanda, o Canadá e a Austrália, que já integraram ou estão em processo de integração dos farmacêuticos comunitários no plano de vacinação covid-19, através das suas redes nacionais de Farmácias".

Em entrevista à SIC, a bastonária dos farmacêuticos denunciou, na altura, falta de "empatia" da parte do Ministério da Saúde - "Andamos todos há muito tempo a querer ajudar. Achamos que para se poder pedir ajuda e se poder ter uma inteligência coletiva e colaborativa, é preciso que haja diálogo. E para que haja diálogo, é preciso que haja simpatia e empatia e não temos tido do Ministério da Saúde – à exceção do secretário de Estado António Lacerda Sales - contactos para envolvimento das pessoas para se encontrarem soluções em conjunto”, lamentou.

A opção do novo coordenador do processo de vacinação é muito clara: tendo em conta a dimensão da gigantesca empreitada que é tentar vacinar 70% da população portuguesa até ao fim do verão e alcançar os 100% até ao fim do ano, é preciso contar com várias frentes, sem esquecer as farmácias.

“Nós conseguimos, usando a capacidade máxima, ir às 150 mil vacinas por dia nos períodos normais — e nos fins de semana duplicar isso“, explicou o vice-almirante. Mostrando confiança na histórica experiência da rede nacional de centros de saúde na administração de vacinas: “Estamos numa região confortável”, em que a capacidade instalada “tem treino, tem cultura, tem instalações e está espalhada pelo país inteiro”, afirmou. Mas sem esquecer "outros agentes".