Exclusivo

Coronavírus

“Cortar-lhe o cabelo, senhor padre? É proibido, mas corto-lhe na boa!” (histórias de um não confinamento)

No primeiro dia deste novo confinamento conhecemos o lado clandestino da capital que mexe, fura as regras e finta a polícia e os fiscais. Nas ruas há bem mais pessoas do que seria de esperar e o sentimento geral é de saturação e injustiça

Tiago MIranda

Manhã de sexta-feira do primeiro dia das novas medidas de confinamento. Estamos à porta de uma barbearia de bairro nos arredores de Lisboa. Como seria de esperar pelas novas regras, a tabuleta indica que quem tem barbas ou cabelos para cortar ou aparar tem de esperar pelo menos um mês. Ou dois. “Sorry we´re closed!”. A montra está forrada a plástico preto, para não deixar dúvidas.

Batemos à porta, porque fomos avisados que o espaço estava a furar o confinamento. O barbeiro Fernando, de 38 anos, de máscara preta no rosto, espreita por uma portinhola improvisada - como se estivéssemos à entrada de um quartel ou discoteca - para se certificar que não é a polícia ou um fiscal. Convida-nos a entrar. Lá dentro, avistamos um cliente com a nuca já desbastada. Mais uns toques finais e está pronto. É o quinto cliente da manhã. O último a ser atendido foi um padre que abençoou esta prática ilegal. “Ele ligou-me a perguntar-me se o atendia. E eu respondi-lhe: “Cortar-lhe o cabelo senhor padre? É proibido, mas se o senhor padre alinhar eu corto-lhe, é na boa. E assim foi.” #Deus no comando e muita fé na navalha.