Há razões óbvias para o aumento dos casos de infeção por covid-19 no inverno a comparar com o período de verão, como a descida da temperatura na altura do ano em que estamos, mais propícia, ao que tudo indica, à transmissão do vírus, mas há outras explicações não tão imediatas assim. Ao Expresso, Teresa Leão, investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, destaca aspetos que estão sobretudo relacionados com o comportamento das pessoas, como o facto de “se fecharem agora mais em casa” devido ao frio. “No inverno as pessoas convivem mais em casa e em espaços menos ventilados. Juntam-se mais fisicamente, mesmo em torno da lareira ou do aquecedor. Há uma busca pelo mesmo espaço, que está quente, e não uma dispersão como no verão, em que cada um ocupa uma divisão da casa ou sai para o parque ou para o jardim.” Isto leva a “contactos mais próximos e consequentemente a um aumento da probabilidade de transmissão do vírus, explica.
Segundos os números divulgados pela Direção-Geral da Saúde desde o início da pandemia de covid-19 em Portugal, foram registadas em média cerca de 328 novas infeções diárias no verão. No outono esse valor subiu para cerca de 3.400 e no inverno para cerca de 5.027. Porque é que há mais casos numa altura em que são também mais as restrições? “No verão havia muitas pessoas em teletrabalho ou de férias, logo não havia tanto contacto no dia a dia entre elas”, aponta também Teresa Leão. Algo que, continua, mudou a partir de setembro. “Começámos a ter mais contactos no local de trabalho e a vida normal, por assim dizer, foi retomada, o que levou a aumento do número de casos de infeção.” Em dezembro, diz, “já tínhamos bastantes casos e com as festas e o convívio no período de natal o risco de transmissão do vírus aumentou muito”. “Nesta altura temos os fatores todos: mais mobilidade das pessoas, mais contactos entre agregados familiares e amigos e nos locais de trabalho e maior uso de espaços fechados e menos ventilados.”