O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, recusa tomar a vacina contra a covid-19 e critica o que seria a desresponsabilização das empresas, como a Pfizer, em caso de efeitos colaterais. Bolsonaro esteve esta sexta-feira num evento em Porto Seguro, no estado da Bahia, e foi claro quanto ao tema. “A vacina, uma vez certificada pela ANVISA [regulador brasileiro], vai ser extensiva a todos que queiram tomá-la. Eu não vou tomar.” Seguiram-se palmas do público.
O Presidente brasileiro tem largo histórico no que respeita à desvalorização da pandemia, que no Brasil matou já mais de 180 mil pessoas e infetou acima de sete milhões. Um deles foi o próprio chefe do Estado, que por isso considera inútil a imunização. “Eu já tive o vírus, já tenho anticorpos. Para quê tomar a vacina de novo?” [Bolsonaro nunca a tomou]
No Brasil há pelo menos dois casos confirmados de reinfeção. Um deles é o de uma médica do Rio Grande do Norte que está a ser acompanhada de perto pelos investigadores. O outro, conta o UOL, foi recentemente confirmado pelo governo de São Paulo. Há ainda 58 casos suspeitos de reinfeção.
Em causa estava a aprovação da vacina da Pfizer-BioNTech nos Estados Unidos, onde já está a ser administrada, tal como no Reino Unido. Ao resto da Europa chegará em breve, assim seja aprovada no próximo dia 21 de dezembro pela Agência Europeia do Medicamento.
Bolsonaro, porém, falou num contrato de intenção de compra que isentaria a farmacêutica caso ocorressem “efeitos colaterais”. “Lá no contrato da Pfizer está bem claro: nós [a Pfizer] não nos responsabilizamos por qualquer efeito secundário. Se você virar um jacaré, é problema seu.” O Presidente brasileiro não ficou por aqui, recorreu a outras imagens. “Se você se transformar em Super-Homem, se crescer barba em alguma mulher aí, ou algum homem começar a falar fino, eles [Pfizer] não têm nada com isso. E, o que é pior, mexem no sistema imunológico das pessoas.”
A parte do discurso em que Bolsonaro põe a hipótese de alguém se transformar em “jacaré” após a vacinação tem circulado pelo Twitter. O jornalista Samuel Pancher foi um dos que partilharam as palavras do Presidente brasileiro, abrindo uma de várias threads onde se partilham imagens do referido animal.
Esta quinta-feira, Bolsonaro sofreu uma pesada derrota no Supremo Tribunal Federal, que decidiu pela obrigatoriedade da vacinação no país. A decisão não significa que todos os brasileiros vão ser forçados a tomar a vacina, mas que podem ser “empurrados” para tal caso não queiram ser alvo de outro tipo de restrições. Fica ao critério dos Estados e municípios a decisão de impor a proibição de entrada em espaços públicos ou transportes a quem se recusar a ser vacinado.
O resultado do STF foi de dez votos a favor da obrigatoriedade e um contra. O argumento vencedor é o de que a saúde coletiva deve sobrepor-se a decisões individuais.