O Presidente da República pré-anunciou esta noite um Natal com menos restrições, mas de duração curta e com cuidados extra, como um compromisso possível para evitar um regresso em força da pandemia que ponha em causa a recuperação do país e a capacidade do SNS.
Numa declaração ao país a partir do Palácio de Belém, Marcelo foi direto no apelo: “A procura de um regime menos intenso no Natal, a verificar-se”, “destinar-se-á a permitir às famílias o tão legitimamente esperado encontro, evitando ao mesmo tempo abrir a porta a um descontrolo com custo elevadíssimo duas ou três semanas mais tarde”. Assim, explicou o chefe do Estado, sem deslindar os pormenores do que será decidido pelo Governo este sábado, “a ideia será não pôr em causa o espírito de Natal mas a sua concentração num momento único e com respeito acrescido pelas regras que possam prevenir contágios familiares generalizados”.
Assim sendo, para a quinzena que se segue em estado de emergência (que acaba a 23), mas também para logo após o Natal, as regras vão permanecer mais duras - como estão definidas até aqui: por concelhos, em função da gravidade da situação epidemiológica de cada um, com medidas que podem incluir a restrição de circulação a partir de determinada hora ao fim de semana, se assim o Governo quiser.
Marcelo não o disse assim mas deixou claramente essa decisão na mão de António Costa, preparando o país para isso - para que o Natal seja exceção de dois ou três dias num mês de regras apertadas: “Mantém-se inalterado o quadro que permite manter o mesmo rigor até 23 do regime em curso. E está presente o mesmo propósito de 23 de dezembro a 7 de janeiro, com a possível exceção que se espera que seja bem entendida e bem vivida no Natal. É do interesse de todos que janeiro possa ser uma consolidação dos passos dados em dezembro e não uma nova e frustrante subida que acabe numa temida terceira vaga”, alertou o Presidente.
O aviso acabaria, aliás, por ser traduzido numa imagem: a de que se a situação piorar as medidas podem vir até a ser mais duras: “Tudo isto para evitar novos confinamentos, ainda que localizados. Tudo isto para não entrarmos em 2021 com novo agravamento da pandemia”, antes mesmo de as vacinas começarem a chegar ao país.
Sobre as vacinas, de resto, Marcelo deixou outro alerta aos portugueses - o de que não pode ser criada demasiada expectativa. Fê-lo deste modo: “O que se sabe quanto a vacinas confirma o que eu aqui disse a 20 de novembro: a sua chegada a todos os portugueses, sem exclusão de idades”, vai demorar “meses, não dias ou semanas - mesmo para grupos que serão prioritários”. “É bom que isso fique claro para que não se criem expectativas excessivas e desilusões imediatas.” Mais uma razão, sublinhou Marcelo, para reiterar a mensagem: “Toda facilidade é errada e toda a prevenção é imperativa, ao longo de dezembro e no início de 2021”.
Como estímulo ficou a certeza presidencial de que os sacrifícios estão a dar resultados. "O país conseguiu nestas semanas uma nova descida da taxa de transmissão e uma desaceleração de número de casos”, mesmo que continue preocupante a pressão sobre o SNS, dos internamentos aos cuidados intensivos.
“O último mês demonstra uma adesão maciça e impressionante às medidas adotadas pelo Governo, com resultados já visíveis. Como disse o professor António Damásio, isso aconteceu com a generosidade, a paciência e calma que sempre demonstram” os portugueses, citou o Presidente. E fechou a curta intervenção traçando três exigências para o mês que se segue: “Total rigor, total exigência, total confiança na nossa assistência coletiva. Com essa confiança enfrentámos quase um ano de pandemia, podemos garantir um melhor início de 2021 - e um ano de 2021 que nos permita esquecer rapidamente o ano de 2020”.