“A situação no nosso país é complicada e, ao mesmo tempo, simples: vivemos um tempo de provações. E vai piorar. Cumpra o seu dever, assuma a sua responsabilidade para impedir a propagação. Não vá ao ginásio, nem à biblioteca, nem a jantares ou a festas. Fique em casa”: o pedido foi feito por Stefan Löfven a toda a população. Em conferência de imprensa, esta segunda-feira, o primeiro-ministro da Suécia anunciou que dentro de uma semana entram em vigor novas medidas para controlar a pandemia de covid-19, bem mais restritas do que até à data.
A partir da próxima terça-feira (24 de novembro), os grupos, reuniões ou encontros estão limitadas a oito pessoas, sendo que estavam até agora restritas a 50 a 300 pessoas, dependendo do caso. O chefe de Governo, que há menos de uma semana já tinha decretado a proibição de venda de álcool a partir das 22h e a obrigação de encerramento de bares e restaurantes até às 22h30, justificou a intensificação das restrições como “necessária” para diminuir o número de infeções.
Esta medidas surgem depois de o caso sueco muito ter sido muito discutido quando, na primeira vaga do vírus, e ao contrário de grande parte dos países, a Suécia não aplicou medidas de confinamento. As pessoas estavam autorizadas a deslocar-se aos locais de trabalho, a comer em restaurantes e a frequentar espaços públicos, a maioria das escolas, restaurantes e bares permaneceram abertos e o distanciamento social era encorajado mas não imposto. A estratégia concentrou-se no isolamento de grupos de risco e no apelo à responsabilidade individual dos cidadãos.
Anders Tegnell, epidemiologista-chefe sueco e principal arquiteto do plano do país, defendia, em maio, o progresso feito no sentido da imunidade coletiva. Segundo o responsável, 20% da população de Estocolmo estava imune no final de abril - e o que supostamente seria uma salvaguarda contra a uma segunda vaga. No entanto, os números divulgados pela Autoridade de Saúde Pública revelavam uma história diferente: menos de 8% da população de Estocolmo tinham desenvolvido os anticorpos necessários para combater a doença. Não só esta percentagem era semelhante a outros países, como está bastante abaixo do intervalo de 70%-90% necessário para se atingir a “imunidade de grupo”.
Ao Expresso, precisamente em maio deste ano, Katerina Janouch, candidata às legislativas de 2018 como representante uma coligação de cidadãos, avaliava a gestão da crise como “muito irresponsável”. As autoridades “não protegeram os idosos nem os profissionais de saúde e não aplicaram a quarentena a pessoas que vinham do exterior”. Além disso, criticava ainda a escassez de testes e de máscaras, em “autocarros sobrelotados”, na “insuficiência de medicamentos” e em “mentiras das autoridades”. “Estão a deixar os idosos sufocar e dão-lhes morfina em vez de oxigénio.”
Durante a primavera, a Suécia registou cinco vezes mais óbitos do que a Dinamarca e 10 vezes mais do que a Noruega, embora com uma taxa de mortalidade inferior à dos países mais castigados da Europa. A pandemia no país melhorou significativamente durante o verão, com os níveis de contágio abaixo dos restantes países nórdicos.
No entanto, nas últimas duas semanas, e de acordo com os dados mais recentes do Centro Europeu e Controlo de Doenças (ECDC), está a registar-se uma média de 511,9 novos casos por cada 100.000 habitantes, o dobro do índice da Dinamarca e mais do que os Países Baixos e o Reino Unido, entre outros.
“O rápido aumento que vimos na Europa veio para cá com grande força. O peso sobre a Saúde aumentou claramente e isso significa um contágio crescente”, disse o diretor da Agência de Saúde Pública sueca, Johan Carlson, defendendo que a regra passa pela ideia de “desistir de tudo o que não é absolutamente necessário”.
De acordo com os dados do Worldometers, a Suécia teve 192.439 pessoas infetadas pelo novo coronavírus. Há 163.884 casos ativos e morreram 6225 pessoas.