No início desta semana, a tensão estava no ar mas ainda não se via. A cama de descanso dos médicos estava arrumada, a colcha bem esticada. Na sala ao lado, jovens intensivistas pareciam aguardar algo ou alguém. Na antecâmara do espaço covid-19 na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, duas enfermeiras comiam. À porta, um carrinho acumulava viseiras e óculos, à espera de quem fosse tratar dos infetados. Dentro de poucos dias, o cenário será outro e os profissionais já sabem.
“A situação está a agravar-se de forma progressiva. Prevejo muitas dificuldades na próxima semana”, avisa Nuno Germano, diretor dos cuidados intensivos. No hospital que mais doentes com covid-19 recebeu durante a primeira fase da pandemia (cerca de 150), o ambiente era ainda de uma estranha acalmia no início da semana. Lá fora, cresciam as notícias sobre o agravamento da situação pandémica no país, com informações sobre a rutura de hospitais como o São João, no Porto, ou o Fernando Fonseca, que atende as regiões de Amadora e Sintra.