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Coronavírus

Crianças “em pânico” e adolescentes “sem interesse pela vida”: o impacto da pandemia nos doentes psiquiátricos mais novos

Nos últimos meses todos os cuidados de saúde sofreram às mãos da covid-19 e a pedopsiquiatria (que lida com as dificuldades emocionais dos jovens) não é exceção. Resistiu mas a custo. As terapias de grupo foram canceladas, as consultas por telefone e vídeo tornaram-se norma mas para alguns especialistas não funcionam da mesma maneira. E identificam problemas graves: “A agressividade e impulsividade habituais [dos adolescentes] deram lugar à apatia e à depressão e quando isso acontece disparam alguns alarmes. Agir, mesmo com revolta, é sinal de que apesar de tudo ainda se está a lutar. O inverso pode significar uma desistência da vida”. Este sábado, 10 de outubro, é Dia Mundial da Saúde Mental

ALEMANHA. Sem poder ir à escola nem brincar nos parques públicos, em Berlim, as horas de brincadeira dentro do quarto eternizam-se
Abdulhamid Hosbas / Getty Images

“Eu nasci para isto”, costumava dizer Ricardo ao ser repreendido pelos pais por tocar, beijar e abraçar tudo e todos. Tanto os pais em casa como estranhos no supermercado: “Sempre teve necessidade de contactos fortes. Na escola era a mesma coisa, abraçava colegas e funcionários sempre que podia. E deixou de poder fazer isso”, conta Ana, a mãe.

Ricardo tem oito anos e Síndrome de Asperger, uma perturbação do espectro do autismo. No início de março, ele e os pais tiveram sintomas “bravos” de covid-19. “Vivenciou a saúde a cair a pique cá em casa e fez um teste à covid bastante doloroso.” O teste foi negativo, mas o rapaz mudou. Ganhou medo a pessoas, ao exterior, passou a sentir o vírus em todo o lado. Os pais punham a mão na maçaneta da porta para ir pôr o lixo ou receber o correio e o filho agarrava-se às suas pernas a chorar porque “não queria que o vírus nos matasse.” Ana recorda: “Deixámos de ver notícias para não o preocupar. O pânico era constante. Durante seis meses não saiu de casa.”