“Eu nasci para isto”, costumava dizer Ricardo ao ser repreendido pelos pais por tocar, beijar e abraçar tudo e todos. Tanto os pais em casa como estranhos no supermercado: “Sempre teve necessidade de contactos fortes. Na escola era a mesma coisa, abraçava colegas e funcionários sempre que podia. E deixou de poder fazer isso”, conta Ana, a mãe.
Ricardo tem oito anos e Síndrome de Asperger, uma perturbação do espectro do autismo. No início de março, ele e os pais tiveram sintomas “bravos” de covid-19. “Vivenciou a saúde a cair a pique cá em casa e fez um teste à covid bastante doloroso.” O teste foi negativo, mas o rapaz mudou. Ganhou medo a pessoas, ao exterior, passou a sentir o vírus em todo o lado. Os pais punham a mão na maçaneta da porta para ir pôr o lixo ou receber o correio e o filho agarrava-se às suas pernas a chorar porque “não queria que o vírus nos matasse.” Ana recorda: “Deixámos de ver notícias para não o preocupar. O pânico era constante. Durante seis meses não saiu de casa.”