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Coronavírus

Covid-19. Vacina apressada seria “desastrosa” porque daria “força ao movimento antivacina” e causaria “insegurança à população”

A avaliação é de dois virologistas ouvidos pelo Expresso depois de especialistas da OMS terem alertado que, no limite, uma má vacina é pior do que nenhuma vacina. O pé no acelerador na busca por uma imunização poderá comprometer tanto a eficácia como a segurança de uma primeira vacina e das subsequentes, mas também há quem relativize o risco desta corrida desenfreada: haverá sempre uma boa margem de segurança, frisa Paulo Paixão, presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia. Sem estudos mais aprofundados, ficará no entanto por se conhecer a duração da imunidade

Uma investigadora do laboratório Openlab, na Universidade Federal de Kazan, na Rússia, manipula biomaterial na procura de uma vacina para a covid-19
Yegor Aleyev/TASS/Getty Images

A corrida para imunizar a população mundial contra a covid-19 pode levar ao desenvolvimento de uma vacina que não é eficaz e se arrisca mesmo a agravar a pandemia. O alerta é do Grupo de Peritos do Ensaio de Vacinas Solidarity da Organização Mundial de Saúde (OMS). Num estudo publicado na semana passada na revista científica “The Lancet”, os cientistas defenderam que uma má vacina seria pior do que nenhuma vacina, quanto mais não seja porque as pessoas que a tomassem assumiriam que já não estariam em risco e deixariam de guardar o distanciamento físico.

“Penso que há uma grande pressa, uma pressa um tanto nacionalista e também uma pressa um tanto capitalista, de ser absolutamente o primeiro a registar uma vacina, e isso tornará realmente mais difícil avaliar outras vacinas”, advertiu Richard Peto, da Universidade de Oxford, conselheiro da OMS e membro daquele grupo de peritos. “Precisamos efetivamente de uma vacina que funcione e precisamos dela em breve, mas precisamos mesmo de provas bastante fortes de eficácia”, acrescentou, citado este domingo pelo jornal “The Guardian”. Os especialistas aconselham esperar por resultados que demonstrem uma eficácia entre 30 e 50%.