Coronavírus

Covid-19. Decisão do Reino Unido de excluir Portugal do “corredor turístico seguro carece de rigor técnico-científico e de transparência”

Um estudo da Universidade NOVA de Lisboa divulgado esta quarta-feira defende que Portugal tem todas as condições para receber turistas e que a decisão do Reino Unido de não incluir o país não só "não contribui para quebrar a cadeia" de contágio como vai ter "consequências socioeconómicas, políticas e diplomáticas"

MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

“Portugal deveria estar nos corredores turísticos da Europa”, é o título e a conclusão de um estudo do Centro de Investigação em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa.

Portugal tem “bons indicadores de risco epidemiológico em relação à covid-19, um sistema nacional de saúde com boa capacidade de resposta, boas opções de transporte aéreo, rodoviário e ferroviários e é um país democrático, de direito, onde se cumpre lei e ordem”, lê-se na investigação levada a cabo por Vasco Ricoca Peixoto e Alexandre Abrantes.

O estudo que foi revelado na manhã desta quarta-feira defende que a decisão do Reino Unido de não colocar Portugal no “corredor turístico seguro” devido à covid-19 “carece de rigor técnico-científico e de transparência”. Segundo os investigadores, “interpretar valores de incidência de casos reportados sem considerar outros indicadores de risco epidemiológicos, a distribuição geográfica e sem considerar que diferentes países detetam diferentes percentagens do total real de casos, é errado”.

De acordo com o texto agora divulgado, esta atitude “levou à adoção de políticas desadequadas” que, sem contribuir de forma relevante para “prevenir a transmissão”, têm “consequências negativas a nível socioeconómico, político e diplomático”.

Em termos práticos, qualquer cidadão português que chegue ao Reino Unido ido de Portugal será obrigado a fazer uma quarentena de 14 dias e igual procedimento não é exigido a cidadãos idos de outros países da mesma região como da Bélgica, Espanha, França ou Itália.

A decisão do Governo britânico baseou-se em critérios que "não são clarificados", diz o estudo da NOVA, adiantando que, tal como outros países, "o Reino Unido considera a incidência de covid-19 (n.º de casos por cem mil habitantes) nos últimos 14 dias como o principal critério de risco epidemiológico para comparar a gravidade da pandemia em diferentes países e regiões, e decidir as suas políticas de contenção, nomeadamente para a abertura de fronteiras".

"A análise do risco epidemiológico da covid-19 deve incluir um conjunto de outros indicadores, nomeadamente: a) sub-deteção de casos, b) política de testagem, c) políticas de testes diagnósticos, d) gravidade dos casos, medida pelas taxas de mortalidade, morbilidade, de internamento geral e em unidades de tratamento intensivo, e e) distribuição geográfica dos casos", lê-se no ponto 2.