Coronavírus

Covid-19 levou revistas científicas de topo a baixar os padrões de exigência

A quantidade de investigação que está a ser feita e a pressão para anunciar novidades nem sempre têm efeitos positivos

DOUGLAS MAGNO/Getty Images

Algumas das principais revistas científicas estão a relaxar os padrões de exigência, na ânsia de acompanhar o ritmo dos estudos que estão a ser feitos sobre o Sars-CoV-2 e a covid-19 em todo o mundo. Esta suspeita, deixada por vários casos de estudos que foram retirados no último mês, foi agora confirmada por entidades que estudam a integridade das publicações científicas.

Citado no diário britânico "Financial Times", o presidente da Airfinity, uma empresa que faz análises sobre a indústria das ciências, diz que "as revistas, incluindo no escalão de topo, têm aplicado padrões científicos diferentes para o que consideram adequado publicar sobre a covid-19 do que outras áreas terapêuticas".

Só em revistas de referência, foram publicados 18,3 mil estudos em poucos meses - fora mais alguns milhares que saíram em dois servidores que publicam os chamados 'pre-prints', isto é, estudos que ainda não foram objeto de revisão pelos pares.

Mesmo as duas revistas médicas mais prestigiadas, a "The Lancet" e o "New England Journal of Medicine", estão a publicar mais estudos observacionais e menos estudos clínicos 'randomizados', embora estes sejam bastante mais importantes.

O resultado é que desde fevereiro já foram encontrados quase duas dezenas de estudos com problemas sérios, incluindo 15 que foram simplesmente retirados pelas revistas - entre eles, uns de que muito se falou recentemente, sobre os efeitos da hidroxicloroquina.

"A covid-19 criou uma tempestade perfeita", explica ao jornal o fundador da Retraction Watch, uma base de dados, "expondo todas as vulnerabilidades do sistema de publicação". Uma manifestação dessas vulnerabilidades é ilustrada pelo testemunho de um professor que diz receber dez pedidos diários para rever artigos, quando no máximo pode fazer quatro dessas revisões por mês.

A solução, diz o presidente executivo da Airfinity, é simples. Ir mais devagar e fazer menos. Quando os habituais três ou quatro meses que o processo levava passam a duas ou três semanas, os lapsos são inevitáveis, mais cedo ou mais tarde.