O senso comum diz-nos que cobrir o nariz e a boca com uma máscara impede o aerotransporte de partículas e, consequentemente, de vírus. Mas desde o início da pandemia provocada pelo novo coronavírus que as entidades de saúde colocaram esse raciocínio em questão. Poderão as partículas ser mais ínfimas do que os poros do tecidos usados nas máscaras?
A ausência de evidência científica e de estudos que o comprovam tardou as entidades de saúde (como a Organização Mundial de Saúde e a maioria dos governos) a confiarem neste processo mecânico para evitar a transmissão.
Mas, agora, um primeiro estudo levado a cabo por uma equipa de investigadores britânicos, e publicado na revista científica Proceedings of the Royal Society A, comprova que um pedaço de tecido de algodão pode, sim, ser a primeira linha de defesa contra a covid-19. “Os resultados das nossas análises apoiam a adoção imediata e universal de máscaras”, afirma o principal autor do estudo, Richard Stutt, citado pelo jornal El País.
O trabalho, que usa o caso do Reino Unido como exemplo, em números de população e em casos reais de contágio, indica que, se pelo menos metade da população usasse máscara em público, o índice de propagação do vírus - comumente medido através do Ro - baixaria para números inferiores a 1. Quanto mais pessoas cobrissem o rosto, mais o Ro se aproximaria de zero, indicam os modelos matemáticos.
Segundo os últimos dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), referentes até 31 de maio, a estimativa para o Ro em Portugal está nos 2,07 podendo o verdadeiro valor estar entre 1,96 a 2,18.
Na situação ideal - aquela em que todas as pessoas usariam uma máscara - atiraria estes valores para baixo de 0,5.
Os números, trabalhados para uma população de cerca de 60 milhões de pessoas, são animadores e podem ser estendidos a vários países europeus. Se combinado o uso de máscaras com períodos pontuais de confinamento parcial, evitar-se-ia uma segunda vaga da pandemia, indicam.
No entanto, há entraves a ter em conta
"Realizar estudos científicos para medir diretamente a eficácia das máscaras é muito complicado", lembra Richard Stutt. Não é possível expor voluntariamente uma pessoa ao vírus, “porque isso levanta vários problemas éticos”, e portanto fica por comparar, com exatidão, a redução das partículas expiradas por uma pessoa infetada, com e sem máscara.
Outro dos medos dos cientistas, desde o início, é que o uso generalizado de máscaras dê uma aparente sensação de segurança que leve a um relaxamento de outras importantes medidas de prevenção, como a lavagem das mãos.