A quase totalidade das pessoas infetadas com o SARS-Cov-2 desenvolve imunidade duradoura contra o novo coronavírus, sugerem vários estudos recentes. O jornal “El País” escreveu esta quinta-feira que 99% dos infetados geram anticorpos, o que afasta, quase por completo, a possibilidade de voltarem a ser infetados. A comunidade científica está especialmente atenta àqueles que desenvolveram anticorpos de grande eficácia capazes de neutralizar o vírus. O plasma sanguíneo destes é uma da vias possíveis para salvar a vida de outros pacientes.
A dificuldade consiste em encontrar os melhores anticorpos, acrescenta o diário espanhol. Cada pessoa tem mais de mil milhões de células imunitárias B e cada uma destas é capaz de fabricar um tipo de anticorpo específico e único. Tendo em conta os mais de quatro milhões de infetados a nível mundial, há quatro mil biliões de possibilidades, ou seja, duas mil vezes mais as estrelas que existem no universo, compara o jornal.
Os resultados do maior ensaio clínico com plasma hiperimune, realizado pela Faculdade de Medicina do Hospital Mount Sinai de Nova Iorque, foram recentemente divulgados. O universo testado era constituído por 1.343 pessoas da cidade e arredores que estavam infetadas ou eram suspeitas de estarem infetadas. Na sua maioria eram casos ligeiros. Os especialistas concluíram que 99% dos 624 casos confirmados desenvolveram anticorpos contra o coronavírus.
Embora dependa de cada caso e esta teoria ainda não tenha sido comprovada, acredita-se que estes anticorpos confiram uma certa imunidade, perdendo força a possibilidade de alguém ser infetado duas vezes. De resto, as autoridades sul-coreanas de saúde, as principais defensoras desta teoria, reconheceram que os alegados 260 reinfetados que detetaram haviam, na realidade, acusado erradamente positivo nos primeiros testes: eram falsos positivos.
Ainda assim, a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem alertado que não há provas científicas suficientes de que as pessoas que recuperaram do vírus não possam ser novamente infetadas.
Quantidade de anticorpos não depende de idade, sexo e gravidade
A quantidade de anticorpos gerados é independente da idade, do sexo e da gravidade da covid-19, a doença associada ao novo coronavírus. Todos parecem produzir as tais proteínas protetoras, algo que é considerado como um dos dados mais promissores do estudo. Em boa verdade, os pacientes mais graves até produzem mais anticorpos, de acordo com um estudo com 175 pacientes conduzido na China.
O pico da produção de anticorpos é atingido cerca de duas semanas depois de terem desaparecido os sintomas, pelo que se recomenda esperar aquele tempo após a recuperação para se fazer um teste fiável e evitar os falsos negativos. A desconsideração deste tempo de espera poderá ser o motivo por que estudos anteriores concluíram que alguns pacientes recuperam sem gerar anticorpos, sugerem os investigadores nova-iorquinos.
O estudo sublinha, no entanto, que não se conhece ainda a quantidade necessária de anticorpos para se conseguir imunidade nem a capacidade neutralizante que possuem. Outra das incógnitas é a duração da imunidade, o que só poderá conhecer-se com o passar do tempo. O termo de comparação, a partir do qual se pode arriscar uma previsão, é com os dois coronavírus mais semelhantes ao novo: os vírus relacionados com a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) e com a Síndrome Respiratória do Médio Oriente (MERS).
Em ambos os casos foram detetados anticorpos neutralizantes em pacientes até três anos após a infeção. No caso da SARS, há até casos de ocorrência daqueles anticorpos ao fim de 13 anos. A grande dúvida é se continuam a funcionar, algo difícil de responder, conclui o “El País”.
Citando estudos realizados no Reino Unido, Espanha e França, a agência Reuters noticiou esta quinta-feira que mesmo nalguns dos países mais atingidos pela pandemia, como é o caso daqueles três, apenas uma pequena fração da população foi infetada até ao momento. As conclusões dos estudos sugerem que o mundo ainda está longe de travar o contágio através da chamada “imunidade de grupo”.
Segundo os dados mais recentes da Universidade Johns Hopkins, o Reino Unido ocupa a terceira posição mundial em número de infetados (mais de 234 mil), só ultrapassado pelos EUA e, mais recentemente, pela Rússia. Espanha surge logo a seguir, com quase 230 mil, enquanto França está mais abaixo, com praticamente 179 mil casos confirmados de infeção.