O Presidente da República afirmou esta quinta-feira que Portugal tem registado um "desconfinamento muito contido" que não permite ainda "conclusões firmes" sobre a reabertura gradual de atividades e estabelecimentos encerrados devido à covid-19.
"O desconfinamento em Portugal, começado a partir do dia 3 de maio, foi um desconfinamento muito contido. Os portugueses foram sensíveis àquilo que lhes foi pedido de fazerem a abertura por pequenos passos, portanto, a grande maioria continuou a ser muito contida. O que quer dizer que não temos muitos dados que permitam retirar conclusões firmes", declarou Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas, no Infarmed, em Lisboa.
O chefe de Estado, que falava no final de mais uma reunião técnica alargada sobre a evolução da covid-19 em Portugal, considerou que para esta "contenção" também contribuiu "uma comunicação muito boa entre as autoridades sanitárias e os portugueses" e que "os passos dados estão a ser dados a um ritmo e com uma intensidade que correspondem a esse diálogo".
Marcelo Rebelo de Sousa salientou que "não passaram ainda 15 dias, o que significa seis dias de incubação e oito dias de comunicação, de reporte às autoridades sanitárias", desde que se iniciou essa reabertura por etapas, após 45 dias de estado de emergência.
"Como o confinamento, a contenção continuou muito elevada, nós encontramos um processo sem grandes alterações", acrescentou, referindo que o indicador de transmissão da doença "anda à volta de 1% na média dos últimos cinco dias, ligeiramente aquém a nível nacional, 0,98", e "mais elevado na região de Lisboa e Vale do Tejo do que na região Centro, e aí mais elevado do que na região Norte, onde é o mais baixo, 0,91".
Sintonia entre governantes e portugueses deve continuar
Em relação à pandemia, para Marcelo Rebelo de Sousa "o fundamental" é que "continue a sintonia, isto é, este diálogo, entre quem tem de decidir e os portugueses que têm também nas suas mãos a decisão final porque depende do seu comportamento este equilíbrio entre a abertura e o controlo da epidemia".
"O comportamento dos portugueses tem sido exemplar e quando comparamos com outros processos, noutros países que têm altos e baixos, avanços e recuos, até agora nós encontramos um processo linear no comportamento dos portugueses e na relação com a evolução da pandemia e isso é positivo", defendeu.
Questionado sobre se já vê a "luz ao fundo do túnel", Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que isso é "falar de uma realidade que os portugueses vão, eles próprios, conquistando".
"Até agora têm vindo a conquistar. Queremos ter a certeza que continuarão a conquistar ao longo das próximas semanas", disse apenas.
Os próximos passos
Não havendo "conclusões firmes" por enquanto, o Presidente da República apontou os dias 18 de maio e 1 de junho, para os quais estão previstas as próximas etapas desta reabertura gradual, como "dois momentos significativos" que Portugal tem pela frente.
O chefe de Estado mencionou que está previsto que no dia 18 de maio haja "uma série de aberturas, quer em termos escolares, quer em termos de restauração, quer em termos de estabelecimentos comerciais", e para 01 de junho "o regresso ao trabalho de muitos e muitas que se encontram em teletrabalho, com mais aberturas em matérias de sistema escolar e também de comércio".
Esta foi a sexta reunião alargada no Infarmed sobre a evolução da covid-19 em Portugal e a primeira após o fim do estado de emergência, decretado pelo Presidente da República, que vigorou em Portugal entre 19 de março e 02 de maio, do qual se transitou para uma situação de calamidade declarada pelo Governo.
Como aconteceu nas reuniões anteriores, foi Marcelo Rebelo de Sousa quem resumiu aos jornalistas o que se discutiu, descrevendo esta sessão como "mais completa, se possível", e adiantando que "permitiu ver a evolução em vários países que já desconfinaram, mas também se debruçou sobre outros temas muito variados, desde internamentos, cuidados intensivos, até testes".
"O desconfinamento nesses países não teve consequências sensíveis em termos de surto", apontou, ressalvando, contudo, que "são conclusões provisórias".
O chefe de Estado congratulou-se com a realização destas reuniões com especialistas, que se iniciaram em março por iniciativa do primeiro-ministro, António Costa, com um objetivo de partilha de informação, alargadas ao presidente da Assembleia da República, líderes partidários, sindicais e patronais, inicialmente com frequência semanal e agora quinzenais.
"É muito positivo haver a realização destas sessões para monitorizar também a par e passo a evolução da pandemia em si mesma e das suas repercussões sociais", disse.
As próximas reuniões serão "na primeira semana de junho, para fazer a avaliação da abertura a partir do dia 18", e "na terceira semana de junho, a determinar, para fazer avaliação dos efeitos da abertura a partir do dia 1 de junho", referiu.
Em Portugal, os primeiros casos de infeção com o novo coronavírus foram confirmados no dia 2 de março e já morreram 1.184 pessoas num total de 28.319 contabilizadas como infetadas, de acordo com o relatório de hoje da Direção-Geral da Saúde (DGS).