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Coronavírus

A urgência dos pequenitos mudou quando lá entrou um bicho “com idade para comer papas de fruta”

“Este vírus é um lactente. Tem cinco meses, come papas de fruta." Almeida Santos apresenta assim o causador de mudanças no serviço que dirige. As portas passaram a estar abertas, há menos assentos, os gabinetes foram trocados e, com a receção do novo hóspede, perdeu 66% das entradas de crianças nas urgências. O bicho, “só quando comer arroz de cabidela o vamos conhecer". Retrato da nova vida das urgências de pediatria do Hospital de São João, no Porto

“Em janeiro e fevereiro costumamos ter, em média, 240 entradas nas urgências por dia. Em agosto, os números já rondam os 180. Agora, estamos com uma média de 60", diz o professor Almeida Santos, diretor do serviço de urgência da pediatria.
RUI DUARTE SILVA

Nunca vira cotonetes tão grandes e eles nunca lhe serviram para limpar o nariz. Na sala dos rastreios, L. encara com hesitação os três mascarados à sua frente. Apenas um se aproxima, irreconhecível, de cógula, máscara, viseira, bata e luvas, tudo azul.

Apesar de ter uma voz doce, de mulher, cabe-lhe a tarefa ingrata de enfiar um destes cotonetes compridos no nariz da adolescente com deficiência e uma camisola às riscas. L. engalfinha-se com as mãos do pai, que a tentam suster.

Não é birra, diz Lurdes Teixeira, enfermeira chefe da urgência pediátrica do Hospital de São João. Chegar com uma zaragatoa à oro e à nasofaringe de uma criança é comummente mais difícil do que fazê-lo num adulto, cujas vias respiratórias, já maduras, são naturalmente mais largas. Mas passou rápido e “até se portou muito bem”, gaba a enfermeira. Chega depois a segunda fase do teste diagnóstico, menos difícil: repetir a dose na garganta.