Coronavírus

Coreia do Sul com número mais alto de casos desde início de abril. Medo de discriminação pode ser um problema

O foco deste possível surto aconteceu numa zona de bares associada com a comunidade LGBTQ, o que pode dificultar a identificação das pessoas. O sistema de identificação de infetados e seus contactos tem sido apresentado como a razão para o sucesso da Coreia do Sul na luta contra o novo coronavírus mas pode vir a revelar-se a sua fraqueza se as pessoas tiverem medo de partilhar os seus dados

Kim Kyung Hoon / Reuters

Mais de três dezenas de casos do novo coronavírus foram confirmados domingo à noite na Coreia do Sul depois de o país ter decidido reabrir os espaços de entretenimento noturno: a origem deste novo foco, segundo as autoridades.

Os 69 casos relatados pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças da Coreia (KCDC) nas últimas 48 horas são os mesmos que o país registou durante toda a semana anterior. No domingo, o país registou 34 casos, o maior número em um mês já que durante os 30 dias anteriores as autoridades registaram uma média de uma dezena de casos por dia.

Alguns dos novos casos estão ligados a um surto em vários bares e outros espaços de diversão noturna de Seul, capital do país, escreve a Reuters. E muitos mais podem vir a aparecer.

Na noite de domingo, as autoridades haviam testado já cerca de 4.000 pessoas identificadas como frequentadores dos espaços em questão mas faltavam ainda encontrar e rastrear pelo menos outras 3.000 - isto falando apenas das pessoas que estiveram fisicamente nestes espaços porque falta ainda contactar e fazer a triagem do maior número possível de pessoas que tenham estado em contacto com os clientes destes bares nas horas a seguir. "A nossa principal prioridade é minimizar a propagação das infeções na área de Seul", disse o primeiro-ministro Chung Sye-kyun aos jornalistas, depois de uma reunião com as autoridades de saúde esta segunda-feira.

O autarca de Seul veio também pedir às pessoas que estiveram nos bares identificados como novos focos que se mostrem disponíveis para serem testados já que existe a suspeita de que alguns tenham evitado fazer o teste. Depois de frisar que haverá multas para quem fugir aos testes, Park Won-soon avisou que “se Seul for penetrada, o país está em risco”. Ao contrário do que acontece em alguns países europeus como Espanha ou Reino Unido, na Coreia do Sul a capital não foi particularmente atingida contando com apenas 700 dos 10.909 casos do país.

O problema é que a zona onde estes casos foram registados, Itaewon, está associada à comunidade LGBT e por isso as autoridades têm receio de que algumas das pessoas que estiveram nesses bares e discotecas não queriam ser identificadas.

Yoon Tae-ho, um dos responsáveis pela equipa que está a liderar, dentro do Ministério da Saúde sul-coreano, a resposta à pandemia, reconheceu estas preocupações. “Não impusemos qualquer restrição de movimentos às pessoas a quem fizemos os testes para desta forma incentivarmos todos a fazer este teste de forma voluntária.” Yoon pediu ainda às autoridades policiais e de saúde que não divulguem qualquer aspeto da vida pessoal destas pessoas caso venham a entrar em contacto com elas. “Peço que todos se abstenham de distribuir informações pessoais ou rumores infundados sobre os pacientes, que não apenas os podem prejudicar e magoar como quem o fizer pode vir a ser punido.”

A aposta na identificação de contactos secundários, através de tecnologia como aplicações para o telemóvel que disponibilizam às autoridades a localização dos cidadãos em qualquer momento, tem sido um dos pilares do sucesso dos sul-coreanos no combate ao vírus, isto apesar de muitos sectores da sociedade se terem revelado contra a “invasão” do Governo à sua privacidade. Com este tipo de surtos de novo no mapa, é provável que volte em força como forma de atacar o mal o mais rápido e o mais próximo possível.

Em discurso à nação no domingo, o presidente Moon Jae-in alertou que o surto "não acabou até acabar" e que “esta é uma guerra que se prolonga no tempo”, acrescentando que o novo foco mostra que o vírus pode se espalhar amplamente a qualquer momento.

Os bares e discotecas voltaram a ser fechados por ordem das autoridades.