Coronavírus

Covid-19. Depois da Azambuja, 40 trabalhadores infetados em fábricas de carne no Montijo

Depois da Avipronto na Azambuja, surgem agora 40 trabalhadores infetados em três fábricas de transformação de carne no Montijo. Autarcas temem que a situação alastre e pedem ao Governo reforço nos transportes públicos. Problema mundial chega a Portugal

Zipi/EPA

Três fábricas de transformação de carne no Montijo têm 40 trabalhadores infetados com Covid 19. Os primeiros casos foram detetados na quarta-feira e os doentes confirmados após testes realizados nas empresas já foram isolados.

As três empresas continuam, no entanto, a trabalhar e, em declarações à SIC, o presidente de uma delas, a Raporal, onde estará a grande maioria dos infetados, garantiu que as regras de segurança exigidas pela Direção Geral da Saúde estão a ser rigorosamente cumpridas no interior das empresas.

Nuno Canta, presidente da Câmara do Montijo, associa este número crescente de casos ao facto de os trabalhadores se deslocarem diariamente de transportes públicos e alertou para o facto de haver uma grande concentração de pessoas à mesma hora. Sobretudo por se tratar de uma zona com várias indústrias e muitos trabalhadores.

Segundo Nuno Canta, não há para já sinais de transmissão ativa à população.

Há 101 infetados na Azambuja

Na Azambuja, onde surgiu o primeiro surto de Covid nestas industrias alimentares, no caso a Avipronto, o número de infetados subiu para 101 trabalhadores. A empresa encontra-se fechada há uma semana, mas numa fábrica próxima foram detetados mais dois casos positivos e há 26 habitantes infetados, segundo confirmou a Direção Geral de Saúde.

O presidente da Câmara da Azambuja, Luís Sousa, pede ao Governo que aumente o numero de carruagens para poder haver um espaço mínimo entre os milhares de trabalhadores que diariamente se deslocam para o seu trabalho. Ao todo, nas industrias da região contam-se cerca de 8 mil trabalhadores em empresas muito próximas umas das outras, o que faz aumentar o receio de a situação disparar.

Tendo em conta o impacto na distribuição dos produtos alimentares em causa, o Governo já marcou para segunda-feira uma reunião com responsáveis da Jerónimo Martins e da Sonae, para avaliar a necessidade de eventuais medidas de prevenção.

Também há casos lá fora

As fábricas de transformação de carnes têm-se revelado um importante foco de contágio durante a pandemia em vários países. Em abril, as autoridades de saúde do estado do Texas abriram uma investigação sobre um conjunto de casos covid-19 que surgiram numa grande fábrica de embalagem de carne, operada pela JBS USA, uma subsidiária da maior empresa de processamento de carne do mundo, com sede em São Paulo, no Brasil.

As unidades de processamento de carne bovina, suína e de aves dos Estados Unidos estão a ser classificadas como focos perigosos de contágio. Dezenas de fábricas foram mesmo forçadas a interromper temporariamente as operações perante o crescimento do número de casos e de mortes de funcionários . De acordo com um relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) divulgado esta semana pela revista americana "Wired", quase cinco mil trabalhadores de fábricas em 19 estados daquele país haviam testado positivo para o vírus até 27 de abril. Nos estados do Iowa e de Dakota do Sul, perto de um quinto da força de trabalho adoeceu.

Também surgiram casos em fábricas de embalagem de carne do Canadá, Espanha, Austrália, Irlanda e Brasil. "Esses surtos são claramente um fenómeno mundial ”, afirmou à "Wired" Nicholas Christakis, chefe do Human Nature Lab em Yale. "Para mim, isso é evidência de que há algo distinto no empacotamento de carne que aumenta os riscos das pessoas de pegar o covid-19".

Segundo o relatório do CDC, os principais riscos para os frigoríficos vêm da proximidade prolongada entre os trabalhadores. Milhares de pessoas podem trabalhar em um único turno de oito horas, permanecendo lado a lado enquanto carcaças passam em ganchos ou correias transportadoras. "O ritmo frenético e as exigências físicas de partir os animais mortos podem fazer as pessoas respirarem com dificuldade e ter dificuldade em manter as máscaras adequadamente posicionadas em seus rostos", explica a "Wired". Para permitir o distanciamento social, a agência recomendou que os processadores de carne reduzissem a velocidade das linhas de produção para exigir menos trabalhadores e que alternassem os turnos para limitar o número de funcionários em uma instalação ao mesmo tempo.

Outras características são mais difíceis de modificar, como as temperaturas muito baixas e os sistemas de ventilação agressivos necessários para impedir que a carne estrague ou seja contaminada.

Nos Estados Unidos, as consequências já se fazem sentir. Esta semana, quase um quinto dos restaurantes da cadeia "Wendy's" ficou sem hambúrgueres, noticiou o "New York Times". E marcas de retalho como Kroger e Costco estão a limitar a venda de carne fresca, de aves e suínos.