Coronavírus

Relatório interno chinês avisa: há uma onda de hostilidade internacional contra o país e os riscos são grandes

No limite, a tensão com os Estados Unidos poderia mesmo acabar em guerra, segundo o relatório de que a Reuters diz ter tido conhecimento e que foi apresentado à liderança em Pequim

ALEX PLAVEVSKI/EPA

A China e os Estados Unidos estão numa rota de confrontação que, num caso extremo, pode vir a acabar em guerra. O aviso vem num relatório interno elaborado por um instituto ligado ao principal organismo de informações chinês e apresentado o mês passado aos líderes máximos chineses.

Segundo a agência Reuters, que diz não ter visto o relatório mas falou com gente que o conhece, o relatório descreve como a pandemia do coronavírus gerou um sentimento anti-chinês a nível global que não tem paralelo desde o massacre de Tiananmen em 1989, e é agravado pela atitude dos EUA, que se ressente do crescente protagonismo assumido pela China a nível internacional.

O Presidente Donald Trump, criticado pela sua demora em responder à epidemia nos EUA e com os seus planos originais de campanha arruinados - ele ia apresentar o bom estado da economia como o principal argumento para ser reeleito em novembro - tem vindo a culpar cada vez mais a China, acusando-a de ter inicialmente escondido a seriedade do vírus e assim ter permitido que ele se espalhasse pelo mundo.

Este fim de semana, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, foi ao ponto de garantir que existem fortes provas de que o vírus teve origem num laboratório em Wuhan, o epicentro da epidemia na China. Não explicou de que provas se tratava, e o consenso dos serviços secretos norte-americanos é que o vírus não foi fabricado nem modificado pelo homem. Embora isso não seja incompatível com a possibilidade de um descuido num laboratório, a probabilidade maior, de longe, parece ser que o vírus teve mesmo origem natural.

Isso não justifica, obviamente, os esforços iniciais de ocultação pelos responsáveis em Wuhan. Nos EUA há estados a processar a China pelos prejuízos causados, e já se fala em não pagar a gigantesca dívida americana ao país, o que poria em causa o estatuto do dólar como moeda de reserva, entre outros efeitos.

Do lado chinês, uma das preocupações principais é que a estratégia de projeção internacional levada a cabo desde há anos, e materializada de forma mais visível na iniciativa "Um Cinturão, Uma Rota, com investimentos e construção de infraestruturas, na Ásia, na Europa e em África", se veja agora posta em causa.

Contactado pela Reuters, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês disse não ter informação sobre o alegado relatório. E numa declaração, criticou a estigmatização do país com fins políticos, apelando à cooperação internacional para combater a epidemia.