Coronavírus

Covid-19. Ministério da Saúde já gastou quase 80 milhões em contratos por ajuste direto

Nenhum dos contratos por ajuste direto foi ainda publicado no Portal dos Contratos Públicos. Secretário de Estado João Paulo Rebelo terá sugerido a autarquias da zona centro contrato com ex-sócio

TIAGO PETINGA/LUSA

Expresso

Entre 12 de março e 23 de abril, o Ministério da Saúde gastou, por ajuste direto, 79,8 milhões em equipamento médico – máscaras e álcool gel. Em causa estão 17 aquisições a sete empresas de valor superior a um milhão de euros. Alguns destes negócios ocorreram sem que fosse assinado nenhum contrato, avança o “Correio da Manhã” esta terça-feira.

Segundo os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), “a urgência imperiosa” das compras dispensa contrato escrito.

A GLSMED TRADE recebeu sete contratos no valor de 33 milhões de euros; a farmacêutica FHC fechou três contratos, por 13,72 milhões de euros; a Modalfa – Comércio e Serviços, empresa do universo Sonae, obteve também três contratos por 11 milhões de euros; a Quilaban recebeu uma encomenda de 9 milhões de euros; a Clothe-Up Desenvolvimento Têxtil Unipessoal assinou um contrato de 7,82 milhões de euros; a Fapomed um contrato de 1,59 milhões de euros; e a Pergut Portugal um contrato de 3,5 milhões de euros.

Nenhum destes contratos foi ainda publicado no Portal dos Contratos Públicos.

João Paulo Rebelo terá sugerido a autarquias da zona centro contrato com ex-sócio

João Paulo Rebelo, secretário de Estado que coordena o controlo da pandemia na região centro do país, terá sugerido à Câmara de Viseu fechar contrato com empresa de antigo sócio, de forma a que fosse a mesma a fazer todos os testes de controlo para a região, avança o “Correio da Manhã” esta terça-feira. A decisão fez-se por ajuste direto. Existiam mais duas empresas que tinham capacidade para fazer o mesmo serviço.

Num e-mail enviado por Almeida Henriques, presidente da câmara de Viseu, aos autarcas da região, lê-se: “Nos últimos dias temos vindo a ser abordados pelo Dr. João Paulo Rebelo, secretário de Estado da Juventude e Desporto, na qualidade de coordenador covid-19 na região centro [...] quanto à possibilidade de fazermos uma parceria com custos repartidos entre Estado Central e Autarquias para fazer testes nas nossas IPSS. Disse que estaria disponível, aguardo valores e disponibilidades diárias.”

Mais à frente, na mesma mensagem, Almeida Henriques revela: “Trata-se de potenciar o laboratório do Dr. João Cotta ALS, a fazer análises em seis horas para o Hospital de S. Teotónio e quem tem possibilidade de incrementar para 300 testes dia e num futuro próximo 1000, algo que será importante para nós”

Questionado pelo “CM”, Almeida Henriques disse desconhecer qualquer relação entre o referido laboratório e o governante. “Nos processos de concursos preocupo-me com os do município. Também não tenho de conhecer as relações interpessoais”, disse.

João Paulo Rebelo foi sócio do vice-presidente da Assembleia Municipal de Viseu, João Fernando Cotta, durante quase dois anos na empresa Legenda Transparente. Saiu dois dias antes de entrar no Governo. Ouvido pelo “CM”, disse que a decisão de contratar o laboratório João Cotta ALS foi das câmaras.