Coronavírus

47D11. Cientistas holandeses criam anticorpo que pode travar a covid-19

Também de Israel chegam notícias de que pode estar em células produzidas pelo corpo humano, e não apenas na vacina, uma solução para a pandemia de covid-19, através da neutralização do vírus que a provoca, o SARS-CoV-2

Os testes com anticorpos têm sido tentados em diferentes partes do mundo, a braços com uma pandemia provocada por um vírus ainda grandemente desconhecido
ANDREW KELLY

A saída para a pandemia provocada pelo vírus SARS-CoV-2 pode estar na imunização passiva da população. Ao contrário da ativa, que se obtém com a vacina, a imunização passiva consegue-se com a administração de anticorpos, produzidos pelo corpo humano, contra um agente patogénico, neste caso, o novo coronavírus. Esta semana começou com a notícia de dois grupos de cientistas que admitem a hipótese de ter desenvolvido esses anticorpos, capazes de neutralizar o vírus da covid-19.

Da Holanda, a novidade vem da Universidade de Utreque, onde uma equipa de investigadores conta ter testado em laboratório um anticorpo monoclonal, o 47D11. Os anticorpos monoclonais são produzidos em laboratório, imitando — e, como o nome indica, clonando — células produzidas pelo corpo, neste caso uma única célula B, das várias que constituem o sistema imunitário. Os monoclonais são capazes de se ligar a um agente específico e neutralizá-lo, e são usados há muito no tratamento de alguns tipos de cancro e doenças inflamatórias.

Para atacar a covid-19, o alvo é a proteína ‘spike’ (espigão), que existe na superfície do vírus, tem a forma de uma coroa e é essencial para que ele entre na célula hospedeira. O mais curioso no estudo, “Anticorpo monoclonal humano que bloqueia a infecção por SARS-CoV-2”, publicado esta segunda-feira na revista científica “Nature Communications”, é que os testes em laboratório começaram antes da pandemia de covid-19, atacando a proteína ‘spike’ de outros coronavírus. Os testes foram feitos em pequenos roedores geneticamente modificados, que produziram diversos anticorpos, alguns deles eficazes contra o Sars-Cov (na origem da SARS, ou síndrome respiratória aguda grave) e contra o vírus da MERS (ou Síndrome Respiratória do Médio Oriente). Agora que a pandemia de um novo coronavirus chegou, a equipa de Utreque decidiu testar se algum desses anticorpos seria eficiente a combater a SARS-CoV-2 e a melhor resposta veio do 47D11.

É certo que ainda é cedo para grandes celebrações — falta confirmar resultados em ambiente clínico, falta perceber com que precisão o anticorpo derrota o vírus, faltam testes em humanos —, mas parece ter sido um primeiro passo relevante. “Os anticorpos monoclonais direcionados a locais vulneráveis ​​nas proteínas da superfície viral são cada vez mais reconhecidos como uma classe promissora de medicamentos contra doenças infecciosas e têm demonstrado eficácia terapêutica para vários vírus”, confirma o texto de Berend-Jan Bosch, investigador do Departamento de Doenças Infecciosas e Imunologia da Universidade, e dos colegas responsáveis pelo estudo.

Semelhante reivindicação faz uma equipa do Israel Institute for Biological Research, que diz ter concluído o desenvolvimento de um anticorpo do novo coronavírus. O anúncio foi feito pelo ministro da Defesa israelita, Naftali Bennett, que o definiu como “uma conquista incrível” e um “avanço significativo” no combate à pandemia. Segundo o jornal “Times of Israel”, Bennett visitou uma unidade secreta do instituto, que trabalha sob a gerência do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, em Ness Ziona, e que descobriu também um anticorpo monoclonal destrutivo para o vírus. Assim que for patenteada a descoberta, processo agora em curso, “na próxima etapa, os investigadores abordarão empresas internacionais para produzir o anticorpo em escala comercial”, lê-se ainda no mesmo jornal, citando o comunicado do gabinete do ministério israelita.