A conferência de angariação de fundos para acelerar o desenvolvimento de vacinas e tratamentos para combater a covid-19 arrecadou 7,4 mil milhões de euros em três horas, ficando apenas a 100 milhões do objetivo inicial da Comissão Europeia. A iniciativa foi conduzida pela presidente de executivo comunitário, Ursula von der Leyen, numa videoconferência que contou com a participação de governos (fundações e privados) de todo o mundo. Mas os Estados Unidos e a Índia não marcaram presença.
Entre os principais doadores da chamada Resposta Global ao Coronavirus ficaram o Japão (€762 milhões), a África do Sul (€1,1 mil milhões), França (€1,5 mil milhões), Alemanha (€525 milhões) ou a Arábia Saudita (€456 milhões). A Comissão Europeia prometeu também mobilizar 1,4 mil milhões de euros, mas só cerca de dois terços deverão ser subsídios. No total, mais de quatro mil milhões de euros serão financiados pela UE.
Já a China, representada não pelo primeiro-ministro Li Keqiang (que chegou a estar na lista de oradores), mas pelo embaixador chinês junto da UE, prometeu contribuir com um valor bem mais baixo: €45,6 milhões de euros. A intervenção na conferências serviu para enumerar outros contributos financeiros (em milhares de milhões) que tem dado para o combate à pandemia, deixando agradecimentos à União Europeia e à Organização Mundial de Saúde.
Portugal, através do primeiro-ministro António Costa, anunciou também 10 milhões de euros. A Fundação Bill e Melinda Gates garantiu €100 milhões e até Madonna prometeu um milhão de dólares.
"Estou muito orgulhosa e estou aliviada, que o início deste projeto tão importante tenha sido tão bem sucedido", disse no final Ursula von der Leyen, numa mensagem gravada (não houve conferência de imprensa). "Todo este dinheiro vai ajudar no rápido arranque de uma cooperação global inédita e vai criar um bem comum verdadeiramente único", disse ainda.
O objetivo passa por garantir uma acessibilidade também global à vacina, evitando monopólios e situações de desigualdade, desde logo entre países ricos e pobres. "Esta vacina, no dia em que ficar disponível, será um bem público mundial", avisou Emmanuel Macron. "Não pertencerá a ninguém, mas pertencer-nos-á a todos", disse ainda o presidente francês, defendendo que uma vez descoberta, será preciso "produzi-la em massa e distribuí-la a todos".
O dinheiro deverá ser canalizado através de organizações internacionais para o desenvolvimento de vacinas, tratamentos e diagnósticos do novo coronavírus.
Maratona continua e Macron não desiste de Trump
A maratona terá agora de continuar e ir além do objetivo inicial, até porque a própria presidente da Comissão reconhece que 7,5 mil milhões de euros não são suficientes. "Muito mais será preciso nos próximos meses", diz Ursula von der Leyen.
"Acabei de receber a mensagem de que a Madonna anunciou a contribuição de um milhão de dólares para a Resposta Global ao Coronavírus e isso mostra que a resposta deve também incluir a sociedade civil e os cidadãos", anunciou a alemã já mesmo no encerramento do evento, numa mobilização de verbas que passa também pela pressão e envolvimento social.
Mas o recado pode ser também para quem ficou de fora deste arranque. De Donald Trump nem um palavra ou um dólar. Os Estados Unidos foram um dos grandes ausentes da tarde, mas o presidente francês ainda não perdeu a esperança. "Estou convencido que os Estados Unidos vão juntar-se. Estão, de facto, à margem, mas isso não compromete nem trava em nada a nossa iniciativa. Eu próprio estou em contacto com o Presidente Trump, estamos em diálogo permanente e as nossa s indústrias estão em contacto com as indústrias americanas", concluiu.
A iniciativa continua e Bruxelas deverá entretanto esclarecer os vários montantes anunciados. Os montantes foram sendo disponibilizados pela Comissão Europeia ao logo da angariação, mas não é clara a parte que diz respeito a dinheiro novo, a eventuais garantias e empréstimos. Por exemplo, França começou por anunciar 500 milhões de euros, mas já mais para o final da videoconferência foram somados mais mil milhões, que de acordo com fonte comunitária dirão respeito a empréstimos ou garantias.
[Artigo atualizado às 22h26]