Um dia depois de o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, ter ido comprar máscaras a um supermercado de Telheiras, em Lisboa, para deixar claro que havia mais um acessório obrigatório na vida de todos os portugueses a partir desta segunda-feira, o Expresso visitou algumas superfícies comerciais de diferentes marcas e distribuição no Porto e em Matosinhos. E chegou ao fim de mãos a abanar, sem máscara para poder apanhar um autocarro.
“Não vendemos máscaras”, dizem num supermercado da cadeia alemã Lidl e repetem na Mercadona. “Máscaras? Só se for na Wells”, respondem num Continente Bom Dia remetendo para a insígnia do segmento de saúde e bem estar da Sonae MC onde informam rapidamente que “as máscaras estão esgotadas e não há ainda indicação sobre a sua reposição”. “As máscaras esgotaram e agora estamos à espera da reposição, mas não sei dizer quando vamos voltar a ter, talvez amanhã”, informam num espaço da rede Pingo Doce que terá vendido mais de dois milhões de máscaras em três dias, adianta ao Expresso uma fonte do sector.
Uma ronda mais alargada por mais supermercados das mesmas insígnias, já depois de almoço, não ajuda a resolver o problema ao potencial cliente que continua sem máscara para poder estar em espaços públicos como comércio e transportes. E o contacto oficial do Expresso com as principais insígnias de distribuição teve apenas três respostas em tempo útil para a publicação deste trabalho.
Ainda há grupos à procura de fornecedores
O grupo Jerónimo Martins, dono do Pingo Doce, admite “grande procura” e refere ter colocado à venda máscaras descartáveis nas suas 443 lojas espalhadas pelo País, prevendo disponibilizar também o artigo na ilha da Madeira a partir de sábado.
E se as máscaras estão actualmente a ser comercializadas com o IVA a 23%, a taxa “será actualizada para 6% assim que for publicado o respectivo diploma legal em Diário da República”, diz o grupo num comunicado em que manifesta a intenção de continuar a “disponibilizar estas e outras soluções de protecção individual, a preços mais acessíveis”.
Do lado do Lidl, o departamento de comunicação corporativa informa que até ao final desta semana estarão "disponíveis máscaras para venda em todas as lojas”.
No Minipreço o Departamento de Relações Exteriores informou que está "a trabalhar arduamente para encontrar as melhores soluções de fornecimento de máscaras para que as mais de 600 lojas em todo o território nacional possam ser abastecidas. Estamos a lidar com inúmeros constrangimentos e tem sido um desafio enorme. Contudo, a partir de amanhã estamos em condições de começar a abastecer algumas lojas com máscaras para venda ao público, ainda numa quantidade limitada, mas a partir de 15 de maio estaremos em condições de fornecer este artigo em grandes quantidades em todo o país".
"Simultaneamente, estamos a trabalhar com fornecedores nacionais para vendermos máscaras reutilizáveis nas nossas lojas", acrescenta.
Em alguns casos, o problema está na "enorme pressão do mercado numa altura em que o processo de certificação das máscaras made in Portugal se atrasou em relação às estimativas iniciais de entrega do produto”, explica Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da APED - Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição, admitindo que nem sempre é fácil encontrar fornecedor.
“Os super e hipermercados que optaram por disponibilizar máscaras sociais certificadas para venda ao público, têm estado a abastecer-se no mercado nacional e internacional de forma a dar resposta a esta primeira fase de procura. No que diz respeito aos fabricantes nacionais, houve um esforço no sentido de identificar os que já têm produtos certificados. É natural que, pontualmente, a oferta disponível possa ser menor em alguns pontos de venda, uma vez que os fabricantes/fornecedores estão a adaptar a sua produção a este aumento exponencial da procura”, precisa.
“No decorrer das próximas semanas, e de acordo com as indicações que temos vindo a receber por parte dos fornecedores nacionais, acreditamos que haja já mais máscaras 'comunitárias/sociais' disponíveis no mercado, o mesmo se passando com os equipamentos importados”, conclui Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da APED.
Máscaras chegam às máquinas de venda automática
Nas farmácias e parafarmácias, algumas tentativas de aquisição de máscara mostram que também é fácil o cliente ouvir dizer que estão esgotadas, embora se torne mais provável conseguir comprar uma. O ponto de situação do sector apresentado esta segunda-feira pela Associação Nacional de Farmácias informa que, depois de um período de “maior escassez”, em março, “as farmácias voltaram a ter máscaras em quantidade para fazer face às necessidades da população “ e dispensaram “cinco milhões de máscaras na última semana”.
Para quem vai viajar de transportes públicos, como no Metro do Porto, há, ainda, a alternativa das máquinas de venda automática, onde as máscaras estão ao lado das luvas descartáveis e do gel desinfetante, em estações coma a Casa da Música ou a Trindade.
Nas juntas de freguesia, a regra parece ser a de "haver máscaras à venda quando também funciona no local uma estação dos CTT", diz Nuno Ortigão, presidente da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde. Mas também há juntas que disponibilizam gratuitamente máscaras e álcool gel aos agregados familiares que já estão a ser apoiados através de programas como o Banco Alimentar, como é o caso da União de Freguesias do Centro Histórico do Porto, liderada por António Fonseca.