Coronavírus

Covid-19. Virologista francês anuncia ter criado teste que apura com que níveis de imunidade ficam as pessoas que já tiveram o coronavírus

Numa entrevista ao diário "Libération", Pierre Charneau também sugeriu que uma vacina contra o coronavírus já não chegará a tempo da atual epidemia, mas que valerá a pena criá-la para o futuro

Chris Hondros/Getty Images

Um proeminente virologista francês anunciou que o laboratório que dirige desenvolveu um teste serológico que permite apurar não apenas se uma pessoa já contraiu o SARS-Cov2, mas que nível de imunidade adquiriu. A confirmar-se, poderá ser um instrumento importante para ajudar a retomar a normalidade da vida social e para proteger as pessoas que cuidam de doentes ou que estiveram próximas de infetados.

Pierre Charneau, diretor e diretor científico do laboratório Pasteur- TheraVectis, que associa uma empresa privada e um importante instituto de investigação sobre doenças infecciosas, deu, na segunda-feira, uma entrevista ao diário "Libération" em que explica que os testes serológicos atualmente disponíveis, além de terem graus variáveis de falibilidade, apenas dizem se uma pessoa já teve o vírus, mas não indicam se ficou com imunidade ou a que nível.

O teste que a sua equipa desenvolveu, ao qual ele chama de "sero-neutralização", visa determinar até que ponto os anticorpos resultantes de uma infeção poderão impedir o vírus de entrar nas células. "Este teste, portanto, informa sobre a eficácia dos anticorpos", diz. "Como é muito sensível, permite graduar os resultados da resposta imunitária (bastante neutralizante, fraca ou não-neutralizante). Podemos desde logo identificar os indivíduos verdadeiramente protegidos".

Esta informação será fundamental para profissionais de saúde e uma variedade de outras pessoas, incluindo as que atendem o público em espaços comerciais e noutros lugares e que, por estes motivos, estão sujeitas diariamente a ser contaminadas. Por contraste, os testes que detetam a presença do vírus no organismo, embora "úteis para localizar os doentes, eventualmente isolá-los e reconstruir as cadeias de contaminação", segundo Charneau, têm demasiadas lacunas.

"Uma infeção ativa não dura mais do que doze dias, em média, e, além disso, o vírus já não é detetável", nota. Donde, a utilidade especial de um teste serológico que seja tão preciso como o que este investigador afirma ter sido desenvolvido no seu laboratório.

Vacina já não virá a tempo

Charneau acrescenta que será possível disponibilizar centenas de milhões desses testes rapidamente e que uma única máquina no Instituto Pasteur está a analisar entre 50 e 100 miil amostras de sangue por semana. Garante que a fiabilidade do teste é elevada - acima dos 98% - a julgar pelos milhares de testes já efetuados sem qualquer falso positivo.

Quanto à vacina por que toda a gente espera atualmente, Charneau explica que "não coloca nenhum problema técnico maior", referindo que o seu laboratório também está a desenvolver uma que é a mais avançada do mundo (baseada em "anticorpos neutralizantes"), mas os testes demoram tempo e a vacina já não chegará a tempo da atual epidemia.

Citando epidemias anteriores de vírus como o SARS e o Zika, nota que chegaram ao fim antes de vacinas realmente seguras poderem ser criadas. Mesmo num processo acelerado, o prazo mínimo serão 18 meses. Aos ensaios humanos já começados por uma empresa americana antes de haver testes de eficácia e toxicidade, ele chama "uma aberração pura" e "uma abordagem mercantil no limite da inconsciência".

Uma segunda vacina que o seu laboratório está a desenvolver difere de outras em que não procura ativar os anticorpos mas outra parte do sistema imunitário, as chamadas células citotóxicas, ou seja, células que têm a capacidade de destruir outras através de substâncias nocivas que libertam.

"Se tiver sucesso, esta vacina terá um espetro de proteção muito largo", diz o cientista. "Protegerá do CoV2 atual, mas também de uma variante do CoV2 que ressurgirá de forma sazonal, como o vírus da gripe". Poderá mesmo proteger contra outros coronavírus, incluindo alguns ainda desconhecidos. Para a epidemia agora em curso, porém, "é demasiado tarde. Assim, não estamos a considerar atalhos clínicos", conclui Charneau.