Coronavírus

Covid-19. Analistas dizem ter identificado mensagens falsas enviadas da China para os telemóveis de norte-americanos

Um grupo de seis analistas de informações, todos com experiência na pasta de assuntos relacionados com a China, disseram ao "New York Time" que o país está por detrás de uma manobra de propagação de mensagens alarmistas, ou mesmo falsas, sobre as medidas de confinamento nos Estados Unidos e sobre a desunião dos países europeus

JASON CONNOLLY/Getty

“Assim que eles tiverem os militares nas ruas para poderem evitar pilhagens e distúrbios vão fechar tudo. Falei com uma pessoa do Departamento de Segurança Interna e ela disse-me que recebeu uma chamada para preparar as coisas e esperar uma ordem para ir para o terreno”. Esta é uma das mensagens que, a meio de março, começaram a ser enviadas como mensagens escritas e a aparecer nas redes sociais de milhões de norte-americanos, precisamente quando o país estava a começar a lidar com os piores efeitos da pandemia da covid-19.

Analistas norte-americanos que falaram sob anonimato ao “New York Times” acreditam que as mensagens foram da autoria de chineses que, pegando em mensagens que já estavam a circular, usaram tecnologia altamente eficaz para as difundir. No espaço de 24 horas, o Conselho para a Segurança Nacional da Casa Branca teve de recorrer à rede social Twitter para avisar que se tratava de uma mensagem falsa.

As agências de informações norte-americanas estão convencidas que foram os chineses que difundiram aquela mensagem e outras do mesmo género em várias plataformas. O que está a preocupar as autoridades, disseram os analistas, é que algumas dessas mensagens chegaram diretamente ao telefone de vários milhões de norte-americanos, como uma banal mensagem escrita, o que ainda não tinha acontecido.

É muito mais complexo encontrar a origem de uma mensagem se ela for enviada pelos serviços encriptados como o Whatsapp ou o Telegram do que se forem colocadas nas redes sociais e este é mais um dos factores que está a deixar as autoridades em alerta máximo. As seis fontes que falaram com o jornal norte-americano conseguiram identificar técnicas de disseminação de conteúdo parecidas com aquelas que são usadas pelos “trolls” russos, ou seja, pessoas que criam milhares de contas falsas para difundir mensagens políticas com opiniões extremadas, notícias falsas e propaganda.

Além destas mensagens, foram também identificadas outras que têm como principal objetivo espalhar a ideia de que os países europeus estão perdidos no meio da atual crise, muito desunidos e que apenas a China está a ajudar o mundo, doando toneladas de material de auxílio ao combate da pandemia.

As mesmas pessoas admitiram que já é possível observar, por parte da China, a utilização de algumas estratégias de desinformação das quais a Rússia também já tinha sido acusada, principalmente durante as eleições presidenciais norte-americanas de 2016.

A CIA concluiu, um ano depois, que de facto a Rússia tinha exercido influência nas eleições, tão ampla era a sua operação de propaganda para criar divisões na América. Isto faz-se colocando online videos em que se veem negros a agredir brancos, histórias sobre os imigrantes que usufruem de serviços sem trabalhar, notícias com citações falsas ou tiradas de contexto, entre muitas outras técnicas que a China parece também já estar a dominar.

"Faz parte do manual número um de como espalhar a divisão", resumiu ao “New York Times” o senador Angus King, do Maine, independente, acrescentando que já estão identificadas contas falsas como algumas das que mais promoveram os protestos recentes contra as regras de confinamento que têm causado o caos em algumas cidades norte-americanas.