Coronavírus

Impacto “significativo” da covid-19 em Portugal: Fitch prevê contração de 3,9% na economia e défice de 4%

A Fitch mantém a notação de crédito de Portugal em BBB, mas reviu esta sexta-feira em baixa a perspetiva para o país. Economia deverá sofrer uma contração de 3,9% e défice público vai chegar a 4% em 2020

James Leynse/Getty

A notação de crédito da dívida soberana portuguesa mantém-se em BBB e uma eventual alteração só será comunicada a 22 de maio, mas a agência de rating Fitch anunciou nesta sexta-feira ter revisto em baixa a perspetiva sobre Portugal, de "positiva" para "estável". Na base da decisão está o impacto "significativo" que a pandemia da covid-19 terá em Portugal, de acordo com a agência.

O choque provocado pela crise desencadeada pelo novo coronavírus deverá interromper as tendências de melhoria registadas na economia portuguesa, na relação entre a dívida pública e o produto interno bruto e na solidez do sistema financeiro, explica a agência. No texto que sustenta a revisão efetuada no "outlook" sobre Portugal, a Fitch sublinha que a economia nacional, "pequena e aberta", tem uma "elevada" dependência do turismo, um dos sectores mais afetados pela crise a nível global, o que a expõe a riscos negativos provenientes da pandemia, sobretudo se o período de quarentena se prolongar para além do cenário que é admitido pela empresa de rating.

A previsão de desempenho para a economia portuguesa em 2020 é, agora, de uma recessão na ordem de 3,9%, em parte devido à quebra de atividade no turismo que, recorda a Fitch ao citar números do World Travel Tourism Council, tem um peso de 16,5% no produto e de 18,6% no emprego. A contração económica será "profunda" no segundo trimestre de 2020, com uma gradual recuperação durante o segundo semestre do ano e em 2021, assumindo que as medidas restritivas adotadas para travar a propagação da covid-19 serão aliviadas até ao final do segundo trimestre.

A agência refere que os cenários que possam ser traçados agora estão rodeados de incertezas relacionadas com a extensão e a duração da pandemia. Uma "segunda onda de infeções" e uma quarentena "mais prolongada", aliadas a eventuais agravamentos da crise sanitária noutros países europeus, poderão conduzir a quebras no produto mais amplas e a uma retoma mais frágil da atividade, com consequências agravadas para os bancos, o mercado de trabalho e as finanças públicas.

Défice público de 2020 em 4% do PIB

Ponderadas as consequências da pandemia da covid-19 sobre a economia portuguesa, a Fitch antecipa que o défice público de 2020 ficará em 4% do produto interno bruto, incluindo neste cálculo as quebras esperadas na receita fiscal devido à contração da atividade e as despesas suportadas pelas administrações públicas com medidas de apoio às famílias e às empresas, para além daquelas que decorrem dos "estabilizadores automáticos", como é o caso dos gastos com subsídios de desemprego.

O regresso aos saldos negativos no Orçamento do Estado vai ter implicações na dívida pública. A Fitch assinala o percurso de redução que foi realizado nos anos mais recentes, uma descida para 117,7% do PIB após o pico de 132,9% registado no final de 2014. No final de 2020, no entanto, a relação entre os compromissos das administrações públicas em matéria de dívida e o valor do produto vai evoluir de forma negativa e fixar-se em 124,9%. A agência acredita que Portugal retomará uma política orçamental "prudente" após a crise da covid-19, embora as finanças públicas do país permaneçam "vulneráveis" à gravidade da contração económica.

As previsões adiantadas pela Fitch são mais otimistas do que aquelas que foram já divulgadas pelo Fundo Monetário Internacional. Para a economia portuguesa, o Fundo prevê uma contração de 8% em 2020 e um défice público de 7,1% do PIB. Na dívida pública, a instituição prevê uma escalada até 135% do produto, de acordo com as projeções reveladas nesta quinta-feira.