Coronavírus

Covid-19. Aulas online estão a ser pirateadas: Sindicato fala em riscos para a “integridade académica”

O acesso de terceiros às plataformas que estão a ser usadas para o ensino à distância está a multiplicar-se. Fenómeno é um risco, tendo em conta que os dados relativos à avaliação de exames e testes externos podem ficar à mercê de terceiros, alerta o Sindicato Nacional do Ensino Superior

O Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNES) está preocupado com as violações de segurança detetadas nas plataformas que estão a ser utilizadas pelos professores do ensino secundário e superior para darem aulas à distância. Os casos de aulas pirateadas estão a multipicar-se, alerta o presidente do sindicato, para quem pode vir a estar em causa a própria “integridade académica”, dada a pressão que está a ser feita para que seja considerado o modelo de avaliação online.

Gonçalo Leite Velho lembra os receios antes manifestados e diz estar a confirmar-se um cenário temido. O acesso a estas plataformas por parte de terceiros “tem várias facetas” e inclui desde ‘hackers’ que se fazem passar por alunos, apenas para perturbar as aulas, até situações de bullying contra professores. “É um problema que está a aparecer com mais regularidade, até como fenómeno de imitação, por ser interpretado como uma proeza conseguir piratear o sistema”, disse ao Expresso. O presidente do SNES acredita mesmo que os abusos podem agravar-se.

O modelo e.learning é complexo e “exige bastante prática”, considera Gonçalo Leite Velho, mas o que está a acontecer, em virtude do cenário de pandemia e da necessidade de criar alternativas para o sector da educação, é que “alguns professores estão a aprender a lidar com o ensino à distância em regime de quase tentativa e erro”. “Com toda a boa vontade” estão a responder e “a procurar as soluções que têm à mão”, acrescenta, mas sem real formação para o efeito, numa área em que o “voluntarismo”, defende, não é o método mais indicado.

Gonçalo Leite Velho afirma que “a circulação de credenciais em plataformas externas” já foi detetada, o que representa um risco tendo em conta que os dados relativos à avaliação de exames e testes externos podem ficar à mercê de terceiros.

“A imposição das instituições, procurando soluções fáceis e rápidas, pode revelar-se perigosa”, sublinha o presidente do sindicato, que considera ser urgente haver “coordenação institucional”.

Deixa também uma crítica ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior: “Tem estado ausente”, sem ouvir os representantes do sector e quem está no terreno, tomando decisões “sem que sejam acauteladas as questões materiais e de segurança” que as soluções adotadas envolvem. “ouvir os dirigentes não é ouvir os professores”, conclui o presidente do SNES.

Fenprof vai apresentar queixa

Também a Fenprof manifestou estar preocupada com a intrusão de terceiros nas plataformas 'online' de ensino à distância, tornando possível o acesso abusivo a dados pessoais, códigos de acesso e imagens de alunos e professores.

Em comunicado divulgado esta sexta-feira, a Federação Nacional dos Professores considera que a segurança de professores, alunos e as suas famílias "não pode ser posta em causa", e entende existirem "fundados receios" de que a segurança não está salvaguardada.

Adianta, por isso, estar “a coligir toda a informação necessária para apresentar queixa na Procuradoria Geral da República, com vista a que sejam identificados os responsáveis, ativos ou passivos, e a que sejam tomadas as medidas judiciais que se adequem”.

No comunicado, a Fenprof menciona nomeadamente uma das plataformas que tem estado a ser utilizada, a ZOOM, que está “inclusivamente, a ser objeto de investigações, devido a denúncias de utilização indevida de dados pessoais, entre outros”.

A nota termina com a exigência feita ao Ministério da Educação, para que este "garanta, com muita urgência, a utilização segura de plataformas de reunião online ou, apresente alternativas à sua utilização, para que professores e alunos possam desenvolver o seu trabalho com um mínimo de tranquilidade e com a dignidade inerente ao ato educativo”.