Coronavírus

Um em quatro clientes do Santander com crédito à habitação pediu para não pagar prestações

Número de clientes que aderiram à moratória deverá ainda aumentar, estima o presidente executivo do banco. Castro e Almeida critica burocracia das linhas de crédito e insurge-se contra “agenda populista” de quem não quer lucros no sector. É óbvio, diz, que a banca vai sofrer
Pedro Castro e Almeida, presidente executivo do Santander em Portugal
Nuno Fox

Um em cada quatro clientes do Santander Totta, em Portugal, pediu para suspender o pagamento das prestações dos seus créditos à habitação. E este peso deverá ainda ser maior, segundo acredita o presidente executivo da instituição financeira.

“Do total de crédito à habitação, cerca de 25% dos clientes já aderiram à moratória”, declarou Pedro Castro e Almeida numa videoconferência organizada pelo Jornal de Negócios esta quarta-feira, 15 de abril. Não deu montantes, mas adiantou que o número de clientes deverá aumentar. “Com a redução dos salários em abril, vamos ter mais”, continuou.

Em causa está a moratória com enquadramento legal para suspender a prestação do capital e/ou juros das prestações de crédito a quem se viu afetado pela paralisação económica decorrente da pandemia de covid-19. Essa moratória, com origem legislativa, pode ser acedida por particulares no caso do crédito à habitação, mas apenas para residentes e referente a habitação permanente, e por empresas. Os bancos estão a trabalhar em conjunto na Associação Portuguesa de Bancos para criar uma outra moratória em que permita o acesso a emigrantes e a quem financiou segundas habitações e também a quem tem crédito pessoal – deverá ser apresentada esta semana, adiantou Castro e Almeida.

Com essa nova moratória privada, “muito menos burocrática”, também deverá haver uma maior procura dos clientes para sentirem um alívio da fatura, antecipou o responsável do banco.

Linhas de crédito com calendário desajustado

Em relação a outra medida criada no âmbito das ajudas à economia por conta da covid-19, Castro e Almeida criticou também algumas das condições das linhas de crédito com custos bonificados e garantidas pelo Estado.

“É um processo burocrático, com demasiados intervenientes”, declarou o líder do Santander, já que estas linhas são operacionalizadas pelos bancos, mas também passam pelas sociedades de garantia mútua, que analisam os créditos. “O processo de aprovação destas linhas e as condicionantes de Bruxelas não vão de encontro ao sentido de urgência que é necessário”, disse.

“Existem muitos clientes desesperados. Não podemos continuar com estes tempos de espera. A burocracia de Bruxelas não ajuda”, continuou ainda Castro Almeida, sem especificar.

Malparado vai disparar, e parem com "agenda populista"

Na videoconferência do Jornal de Negócios, o líder do banco português de capitais espanhóis também quis frisar que os bancos não estão a cobrar 3% pelo acesso às linhas de crédito, lembrando que os spreads variam entre 1% e 1,5% (além de uma comissão bancária de até 0,5%), a que acrescem depois as comissões de garantia, cobradas pelas sociedades de garantia mútua.

Castro e Almeida critica a “agenda populista” que fala contra lucros da banca (Rui Rio foi um dos primeiros), argumentando que os bancos vão sofrer com a crise, e que fizeram um caminho para a sua recuperação nos últimos anos - e lembra que das ajudas de mais de 20 mil milhões recebidas, houve bancos que as devolveram e outras (ao Novo Banco) serão pagas pelos próprios bancos até 2048.

Aliás, em relação ao impacto na crise, Castro e Almeida até avançou com uma estimativa, “num cenário otimista”, em que as imparidades para cobrir perdas em crédito poderão subir entre 2 e 6 mil milhões de euros. “Ao nível do malparado, acredito que os valores irão disparar”. Apesar disso, o banqueiro sublinhou que o banco que dirige está “bem preparado para enfrentar a crise”.