O médico Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde do Brasil, cumpre o que prega. Na entrevista que deu à “Globo” no programa “Fantástico” – que mistura informação com entretenimento – conta que passou o domingo de Páscoa sozinho com a mulher, no estado de Goiás: “Vim aqui hoje, minha família, eu e minha esposa, estamos sem os filhos, sem meu pai, minha mãe. Em nome das nossas famílias, eu cumprimento todas as famílias brasileiras […] nesse domingo de Páscoa tão atípico para todos nós”.
Cauteloso, não comenta nenhuma das críticas feitas pelo Presidente Jair Bolsonaro à política de confinamento que pôs em marcha para travar a pandemia do coronavírus. Mandetta tampouco menciona a tentativa de Bolsonaro de demiti-lo do cargo na última segunda-feira, dia em que o Brasil tinha cerca de metade dos casos do que no domingo de Páscoa (12 mil casos de infeção confirmados e 553 mortos, contra 22,169 e 1223 mortes).
“O nosso inimigo é o coronavírus”
A equipa do “Fantástico” questionou Mandetta sobre a sua relação com Bolsonaro, que não o demitiu na última segunda-feira porque foi travado pelo sector militar do Governo e da Casa Civil. O ministro garante que a única coisa que o preocupa é a população poder pensar: “Mas será que o ministro é contra o Presidente? Não há ninguém contra nem a favor de nada. O nosso inimigo, o nosso adversário, o nosso problema é o coronavírus. Esse é o nosso adversário, inimigo. Se eu estou ministro da Saúde, eu estou ministro da Saúde por obra de nomeação do presidente. O Presidente olha muito também pelo lado da economia. E chama muito a atenção o lado da economia. O Ministério da Saúde entende a economia, entende a cultura e educação, mas chama pelo lado de equilíbrio de proteção à vida”.
Esta diferença de abordagens suscita nos brasileiros “uma dubiedade: ele não sabe se escuta o ministro da Saúde, se ele escuta o Presidente, quem é que ele escuta”, admite Mandetta.
Três metros de distância
Enquanto o Presidente Bolsonaro compara a pandemia a uma “gripezinha”, Mandetta defende distância física entre as famílias e pessoas que têm mesmo de circular e o confinamento em casa. E dá o exemplo do que se passa com os serviços que tutela: “Dentro do Ministério da Saúde, como a equipe é uma equipe que está trabalhando comigo, muito já formada, muito bem distribuída, a nossa distância entre um e outro é de 2,5 a 3 metros, em qualquer circunstância. Até agora, nós não tivemos nenhum colaborador nosso que tenha tido a gripe, a virose”.
“É um cuidado muito grande, uma saudade muito grande do meu neto, dos meus filhos que estão em Mato Grosso do Sul, do meu pai, da minha mãe. Esses eu falo com eles normalmente, por telefone, vendo as imagens. Uma parte que é dura para todo mundo”, acrescenta o ministro. “No dia-a- dia não é diferente do que cada brasileiro está passando para tentar passar por isso junto. Quando a gente protege a família da gente, a gente está protegendo a família de todo mundo.”
Lembra que o êxito do combate à pandemia depende do comportamento de cada brasileiro no sítio onde trabalha, mora e frequenta: “Esse vírus, a história natural dele, como ele vai se comportar aqui, quem vai escrever essa história é o comportamento da sociedade, não é a polícia, o decreto. É como cada um de nós brasileiros vamos ter a consciência do cuidado individual, sendo o responsável pelo cuidado coletivo”.
E avisa que os números vão ser grandes, ao mesmo tempo que tenta passar uma mensagem para levantar o ego da população: “O Brasil a gente não pode comparar com um país pequeno, como é a Espanha, como é a Itália, a Grécia, Macedónia e até a Inglaterra. Nós somos o próprio continente. Sabemos que serão dias duros. Seja conosco ou qualquer outra pessoa. Maio, junho, em algumas regiões julho, nós teremos dias muito duros”.