Coronavírus

Covid-19. Centeno: “Acho que não vamos chegar a uma queda do PIB de dois dígitos este ano”

Ministro das Finanças avisa que economia perde 6,5% por cada mês e meio de paragem e espera quebra do PIB de dimensões históricas. Mas acredita em recuperação rápida e garante que a Europa vai continuar a trabalhar em medidas adicionais

PEDRO NUNES/Lusa

O ministro das Finanças avisa que o segundo trimestre deste ano deverá ter a maior queda do PIB de sempre mas, ainda assim, espera que Portugal feche 2020 com uma recessão inferior a 10% do PIB. “No conjunto ano acho que não vamos chegar a uma queda de dois dígitos”, disse Mário Centeno em entrevista esta noite à TVI, embora alertando que a contração do PIB no segundo trimestre poderá ser “quatro ou cinco vezes o máximo que caiu num trimestre”. Centeno estava a referir-se ao pior trimestre de 2013, no auge do programa da troika, quando a economia recuou 4,3% o que colocaria o cenário para os meses entre abril e junho deste ano na ordem dos 16% a 20%.

O ministro das Finanças não avança, para já, novas previsões do governo para a evolução da economia portuguesa este ano mas dá alguns números: cada 30 dias úteis de paragem (o equivalente a mês e meio) rouba 6,5% ao PIB anual. E lembra que Portugal, com um peso das exportações no PIB de 45%, depende muito do que acontecer lá fora. Mesmo assim, mostra algum optimismo na capacidade de recuperação: “Provavelmente iremos voltar em dois anos aos números de 2019 se a crise se contiver no segundo trimestre e com um processo, ainda que lento, de recuperação no terceiro e quarto trimestres.”

Sobre as consequências para as contas públicas, que o governo contava levar este ano a um excedente antes da pandemia da covid-19, também não se comprometeu com qualquer valor mas revelou que as medidas adotadas e o efeito dos estabilizadores automáticos (menos receita e mais despesa) representa um custo entre 6000 e 7000 milhões, ou seja, valores em redor de 3% do PIB.

Centeno considera que esta “é uma crise de natureza diferente”, de uma dimensão nunca vista, e promete mais medidas a nível europeu para lidar com a recuperação. Aquilo que foi decidido no Eurogrupo da semana passada, que tem sido considero curto por analistas e comentadores, foi “uma vitória da Europa” mas “não é o fim da linha”. Foi o necessário para responder aos problemas de curto prazo das empresas, famílias e Estados. Mais à frente, será necessário negociar a resposta europeia para relançar a economia, deixando em aberto nova negociação – “vamos ter de continuar de inúmeras questões que podem não se colocar no curtíssimo prazo” – e a questão da dívida (ou das coronabonds) “é crucial, como é evidente”.

O ministro das Finanças não quis comentar o cenário de nacionalização da TAP – ou de outras empresas em dificuldades – e disse apenas “não seria correcto ou verdadeiro que qualquer opção fosse afastada”. E sobre a eventual mudança para governador do Banco de Portugal não deu qualquer resposta taxativa e apenas disse: “Não estamos em tempo de nos preocupar com essa questão.”