O debate foi duro e difícil nos bastidores das negociações. O ministro francês das Finanças, Bruno Le Maire, diz que foram precisas 15 horas só para se incluir no texto a possibilidade de se criarem "instrumentos financeiros inovadores": as três palavras que para os holandeses são "vagas" e não querem dizer muito mais do que isso mesmo, para italianos, franceses ou portugueses mantém vivo o debate sobre a emissão conjunta de dívida.
O texto final não fala de coronabonds nem de eurobonds, mas inclui um "fundo de retoma", proposto pelos franceses e no qual os 27 se comprometem a trabalhar, seguindo as instruções que vierem ainda dos líderes europeus. É nesse parágrafo que, a seguir às "fontes de financiamento", surge a referência aos tais "instrumentos financeiros inovadores, consistentes com os Tratados da UE". O objetivo é que esteja ligado ao próximo orçamento comunitário, mas França e aliados esperam mais e querem que seja algo à parte e a somar ao Quadro Financeiro Plurianual.
A forma como está escrito e a referência aos tratados - que são muito limitativos em relação à mutualização da dívida - podem alimentar várias interpretação, mas Bruno Le Maire não tem dúvidas sobre o que é que a expressão quer dizer: "o único instrumento que ainda não existe no financiamento europeu é a dívida comum".
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Por dentro do Eurogrupo: os 500 mil milhões, as cedências e a batalha dos coronabonds
O Eurogroupo obrigou a cedências de todas as partes. E o compromisso possível segue agora para ser discutido e validado pelos 27 chefes de Estado e de Governo. França acredita na "dívida comum". Holanda responde: "cada um lê [no acordo] o que quiser, mas é importante não nos iludirmos". Uma nova cimeira por videoconferência está marcada para 23 de abril.