Coronavírus

Eurogrupo chega a acordo e Espanha prolonga estado de emergência: Covid-19, o ponto de situação no mundo

O recuo da Holanda, o caos nos EUA e a saída do primeiro-ministro britânico dos cuidados intensivos. A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos mostrou-se preocupada com a implementação de medidas que possam vir a descambar em “mudanças repressivas” após a pandemia, precisamente no dia em que o Governo húngaro anunciou que as restrições em vigor vão prolongar-se “indefinidamente”

KENZO TRIBOUILLARD/Getty Images

O dia fica marcado pelo acordo feito pelos ministros das Finanças da zona euro. O que aconteceu exatamente? Aconteceu que a Holanda recuou e aceitou flexibilizar as linhas de crédito do Mecanismo Europeu de Estabilidade, o fundo de resgate dos países que partilham a moeda única. Mas com uma condição: serão apenas financiadas despesas relacionadas direta ou indiretamente com “saúde, cura e prevenção” por causa da pandemia de covid-19, como escreveu o Expresso. Este instrumento deverá estar operacional em duas semanas.

Em Espanha, o Parlamento votou favoravelmente o prolongamento do estado de emergência até 26 de abril, e o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, suspeita que tal voltará a acontecer findo o período definido, tendo sugerido que poderá haver um novo prolongamento até maio. Perante o Parlamento, afirmou que o país “atingiu o pico da pandemia” e, por isso, a “última coisa que deve ser permitida agora é recuar”. O número de mortes no país voltou a diminuir, depois de uma subida nos últimos dois dias — no total, estão confirmados até ao momento 15.238 óbitos e 152.446 pessoas infetadas.

E se de números falamos, há que realçar os de Itália, que ultrapassou esta quinta-feira as 18 mil mortes e viu voltar a subir o número de novos contágios. França ultrapassou os 12 mil mortos mas nem tudo são notícias más: pela primeira vez desde o início da pandemia, houve uma diminuição do número de doentes nos cuidados intensivos no país.

Quem também saiu dos cuidados intensivos foi o primeiro-ministro britânico. Um porta-voz de Downing Street disse que Boris Johnson continuará a “ser monitorizado de perto durante a fase inicial da sua recuperação” e está “de bom humor”.

Os EUA continuam com números assustadores (ultrapassaram esta quinta-feira os 15.900 mortos, segundo a contagem da Universidade Johns Hopkins) e o Estado de Nova Iorque continua a gerar especial preocupação — morreram mais pessoas nesta quinta-feira do que em qualquer outro dia (799), mas as autoridades garantem que a situação está a estabilizar. O que não está a estabilizar é o número de desempregados no país, mais 6,6 milhões na última semana, de acordo com a BBC. Somadas as três últimas semanas, há já 16 milhões de pessoas desempregadas (a crise de 2018 fez cerca de metade, recordou a emissora britânica).

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, mostrou-se preocupada com a implementação de medidas, enquadradas no estado de emergência, que possam vir a descambar em “mudanças repressivas” após a pandemia. E, nem de propósito, ainda esta quinta-feira o primeiro-ministro, Viktor Orbán, anunciou que as restrições em vigor vão prolongar-se “indefinidamente”.

Preocupação da ONU é também a pobreza, a que já existia e que se prevê que aumente com a pandemia. Um estudo divulgado pelo Instituto Mundial da Universidade das Nações Unidas revela que a atual crise pode deixar mais de 520 milhões de pessoas a viver com rendimentos inferiores a cinco euros por dia. E se de carências se fala, é preciso falar sobre África, onde a escassez de camas de cuidados intensivos é, segundo a OMS, “drástica”. A organização estima que haja apenas uma média de cinco destas camas por um milhão de habitantes — na Europa, existem quatro mil por um milhão.

Terminamos com uma notícia aparentemente boa: a Arábia Saudita anunciou um cessar-fogo no Iémen. E usamos o advérbio porque anúncios de tréguas no país é o que tem abundado, sem que isso se traduza, de facto, em paz. Numa altura de crise, os sauditas acederam ao pedido das Nações Unidas de pôr fim às hostilidades. António Guterres aplaudiu, mas também pediu rapidez. Se é para acabar o conflito, que seja em breve, e mesmo assim já será tarde demais.