Coronavírus

Ser idoso e ter covid-19 “não é uma fatalidade”. Mais 25 milhões de máscaras a caminho, mas “nenhuma medida é milagrosa”

Graça Freitas deu uma nota de esperança aos mais velhos. “Felizmente temos muitos idosos com mais de 80 anos que recuperaram e tiveram alta”​​​

Tiago Miranda

Ser idoso e ter covid-19 não é uma sentença de morte. A ideia foi reforçada por Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, na conferência de imprensa de atualização dos números da pandemia em Portugal. “Felizmente temos muitos idosos com mais de 80 anos que recuperaram e tiveram alta.” Ser diagnosticado com a doença “não é uma fatalidade”. Graça Freitas fazia uma caracterização das 246 mortes já registadas no país. “A taxa de letalidade em pessoas acima dos 70 anos não chega sequer a 10%”, disse, numa imprecisão, já que essa taxa é agora de 10,2%. Ser idoso significa, por isso, “apenas um aumento do risco”.

Questionada sobre outros riscos, a diretora-geral da Saúde fez um retrato das doenças associadas que mais ameaçam. São elas as do “aparelho cardio-circulatório, as doenças respiratórias, a diabetes, a doença renal crónica, as neoplasias e as cerebrovasculares”.

Relacionados com a problemática dos idosos estão os lares, onde os casos de diagnósticos positivos não param de aumentar. Graça Freitas diz que não é possível “impedir que os profissionais circulem na comunidade” e que de cada vez que há um caso suspeito ou algum sintoma, a regra é “isolar, isolar, isolar”. Depois disso, “testar, testar, testar”.

Tiago Miranda

Máscaras, sim ou não? “Nenhuma medida isolada é milagrosa”

A agenda noticiosa desta sexta-feira tem sido marcada pelas críticas do presidente do Conselho de Escolas Médicas Portuguesas, Fausto Pinto, que manifestou incómodo pela posição da Direção-Geral da Saúde quanto à utilização de máscaras por pessoas não infetadas. O problema “foi o argumento utilizado: de que não era eficaz. Isto não é verdade. O que temos é que não há máscaras suficientes e, por isso, arranjou-se um artifício, uma desculpa, dizendo que as máscaras não são eficazes”, afirmou o líder do conselho.

Graça Freitas utilizou a conferência de imprensa para responder que, “desde o início, quando ainda não era pandemia, Portugal Portugal tem estado alinhado com as recomendações da Organização Mundial da Saúde, do Centro Europeu de Controlo de Doenças e da literatura médica”. A responsável admitiu, porém, flexibilizar essas recomendações “se houver evidências novas”.

“O que sabemos inequivocamente”, acrescentou Graça Freitas, “é que não há uma única medida completamente eficaz. É apenas no conjunto das medidas que conseguimos aplanar a curva. Nenhuma medida isolada é milagrosa". A diretora-geral da Saúde repetiu a ideia de que a “máscara não deve impedir o isolamento social” e deu o exemplo de Wuhan, cidade chinesa onde o surto teve início e que é agora considerada caso de sucesso no controlo da doença. “Lá as pessoas não saíam à rua, nem com máscara nem sem máscara.”

Para os profissionais de saúde, as máscaras são essenciais e António Lacerda Sales, secretário de Estado da Saúde, deu conta de um reforço desse material em Portugal. “Em termos de encomendas, há 24 milhões de máscaras que vão chegar, de forma faseada, até final de abril, e 1,8 milhões de máscaras FFP2 [um dos tipos de máscara respiratória] até ao fim de maio.”

O secretário de Estado da Saúde enfatizou ainda a participação da sociedade civil no reforço de equipamento de proteção para hospitais e profissionais. “A indústria tem mostrado disponibilidade para adaptar a capacidade produtiva [destes materiais]. Saudamos as empresas pela capacidade de adaptação, mantendo empregos e ajudando o Serviço Nacional de Saúde”, elogiou António Lacerda Sales.

Para facilitar o reforço, a Direção-Geral da Saúde disponibilizou um catálogo com orientações técnicas para as empresas que queiram produzir esses equipamentos de proteção, de máscaras a zaragatoas e outros materiais. “Temos já 100 empresas inscritas a aguardar validação”, congratulou-se o secretário de Estado. Todas as orientações estão no microsite da DGS.

Tal como António Costa havia dito, Lacerda Sales define abril como “o mês mais crítico”. “A renovação do estado de emergência obriga a um esforço adicional na luta. Não podemos vacilar. Não podemos baixar a única defesa que temos neste combate que é a contenção social. A nossa maior prova de união é o nosso isolamento”, afirmou.