Coronavírus

Covid-19. Com a pandemia em fase de mitigação, cerco sanitário do Porto é “inútil” e “medieval”

Rui Moreira já contactou o primeiro-ministro e a ministra da Saúde sobre a eventual criação de uma cerca sanitária no Porto, que desconheceriam que a medida estava a ser equacionada. Líder do PS do Porto e eruodeputado Manuel Pizarro lembra que três quartos dos profissionais de saúde do Hospital de São João são de fora da cidade ou do distrito

Rui Duarte Silva

A criação de um cordão sanitário no Porto, decisão que a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, disse que pode avançar, surpreendeu a Câmara do Porto. Rui Moreira garante não ter sido informado nem consultado sobre a necessidade desta medida sanitária, nem as autoridades locais, nem a Proteção Civil do concelho e nem a nível distrital

Fonte próxima do executivo municipal referiu ao Expresso que o presidente da Câmara do Porto já entrou em contacto com o chefe do Governo e com a ministra da Saúde, e nem o chefe do Governo nem Marta Temido estariam "a par da intenção da Direção-Geral da Saúde [DGS]".

A Câmara do Porto já anunciou que não aceita a medida "inútil, extemporânea e absurda", numa altura em que a pandemia de covid-19 se encontra generalizada na comunidade , ou seja, em fase de mitigação e não de prevenção ou contenção.

Em comunicado, a autarquia adverte que a cerca sanitária tornaria impossível o funcionamento de serviços básicos na cidade, como limpeza urbana, já que a esmagadora maioria dos funcionários residem fora do Porto. Outro constrangimento "insanável" é ser no Porto que estão localizados os dois hospitais de referência no combate à pandemia, o Hospital de São João e o Hospital de Santo António, sem esquecer a linha SNS24, cujos assistentes também não vivem maioritariamente no concelho.

Além de Rui Moreira desconhecer as razões que justifiquem a criação de uma cerca sanitária, fonte da autarquia lembra que todos os concelhos-fronteira do Porto registam números elevados de pacientes infetados com covid-19, como são os casos de Gaia, Gondomar, Matosinhos e da Maia, cujo autarca, António da Silva Tiago, chegou a ponderar a imposição de tal medida quando o país ainda não estava em fase de mitigação, deliberação que foi descartada pela ARS-Norte.

A hipótese de a DGS avançar com esta medida está relacionada com o aumento de número de casos no concelho: de acordo com o boletim da Direção-Geral da Saúde, o número de casos de covid-19 passou de 417 no sábado para 941 no domingo. A autarquia frisa que não pode concordar com uma medida desta natureza baseada em estatísticas sem consistência científica ou sequer "fiáveis", emitidas diariamente pela DGS e cujas variações demonstram a "sua falta de credibilidade.

Ao Expresso, a autarquia alerta que o Porto não pode ser "vítima do sua capacidade de iniciativa" por estar a "testar mais casos do que outros concelhos". Há duas semanas que o Porto tem no terreno, no Queimódromo, junto ao Parque da Cidade, um centro de testes em sistema 'Drive Thru', com capacidade de 900 testes por dia, tendo iniciado este domingo a recolha em todos os lares de idosos, funcionários e pessoal médico destas instituições.

Cerco “é medieval e despropositado”, afirma Manuel Pizarro

O eurodeputado e líder da Federação Distrital do PS do Porto já considerou "infeliz e completamente despropositada" a ideia de se criar um cerco sanitário na cidade para combater a covid-19. O também vereador da Câmara do Porto, médico de profissão e que se encontra a trabalhar como voluntário no Hospital de São João, defende que a ideia de se criar um cerco medieval à cidade revela "um total desconhecimento" da vida da região.

“Só no Hospital de São João três quartos dos profissionais vêm de fora do Porto e uma percentagem significativa de fora da Área Metropolitana” diz Manuel Pizarro, acrescentando que isto, só por si, revela que o alegado cerco da DGS iria criar muitos mais problemas "do que ajudar ao esforço contra a propagação do vírus".

Para Manuel Pizarro, caso a medida equacionada pela DGS avance, ditará "uma impossibilidade prática"de funcionamento de serviços essenciais face à interdependência dos municípios vizinhos da Área Metropolitana do Porto.