Coronavírus

BE concorda com Costa sobre ministro holandês e critica: “UE fez declaração de incapacidade”

A União Europeia está a repetir os mesmos erros da crise de 2008, diz Catarina Martins. Bloco insiste na proibição de despedimentos e reintegração de trabalhadores

MIGUEL PEREIRA DA SILVA/LUSA

As críticas ao alcance das medidas que o Governo está a tomar são várias, mas, em pelo menos um ponto, Bloco de Esquerda e PS estão em sintonia. Um dia depois de António Costa ter considerado o discurso do ministro das finanças holandês “repugnante”, Catarina Martins veio concordar e deixar fortes críticas à atuação do Conselho Europeu e da União Europeia.

Numa vídeo-conferência feita na tarde desta sexta-feira, Catarina Martins reagiu ao facto de continuar a não haver acordo na Europa sobre medidas como a emissão conjunta de dívida (os chamados coronabonds), defendida por vários países, entre eles Portugal. “O comunicado [do Conselho Europeu desta quinta-feira] é uma verdadeira declaração de incapacidade (...), sem nenhum avanço em medidas solidárias de investimento”, atacou a coordenadora bloquista.

Essa falta de soluções preocupa o partido, apesar de o Bloco ver com bons olhos medidas já tomadas, como a flexibilização das regras sobre o défice ou o aprofundamento da compra de dívida. “A União Europeia repete o erro da resposta à crise de 2008: enquanto diz aos países “endividem-se agora”, prepara a austeridade para o dia seguinte”, lamentou. “Uma União Europeia incapaz nos momentos de crise é não apenas inútil, mas destrutiva”.

Uma crítica que, em parte, cola com as palavras de António Costa que, nesta quinta-feira, à saída do Conselho Europeu, falava de um acordo que é “o possível, mas insuficiente”, atacando os países que estão a bloquear a adoção de medidas como a emissão de coronabonds. Em particular, o ministro das Finanças holandês, Wopke Hoekstra, por ter defendido que a Comissão Europeia deveria investigar países como Espanha, “que afirmam não ter margem orçamental para lidar com os efeitos da crise apesar de a zona euro estar a crescer há sete anos consecutivos”.

Depois de Costa ter classificado este tipo de discurso como “repugnante”, foi a vez de Catarina Martins assegurar que “acompanha” as declarações do primeiro-ministro sobre a “irresponsabilidade” de quem está a impedir soluções conjuntas na Europa.

A coordenadora bloquista usou a conferência de imprensa para insistir em medidas que o Bloco quer ver implementadas, como a proibição dos despedimentos - a maior lacuna que vê nas propostas já decididas pelo Governo -, incluindo dos trabalhadores mais precários, e a reintegração dos despedidos desde o início desta crise; a injeção de dinheiro direta nas empresas mais pequenas; a baixa dos preços da energia e proteção de todos os inquilinos (com subsídios de renda, por exemplo); a requisição dos privados na Saúde; e a solução para quem tem de ficar em casa na Páscoa e vê o seu apoio suspenso durante este período.

Sobre as medidas já postas em prática, o Bloco quis “saudar” a suspensão de prestações bancárias e hipotecas para famílias em dificuldades, assim como o facto de o custo dos apoios ao lay-off passar a ser um gasto do âmbito do Orçamento do Estado para não sobrecarregar a Segurança Social. Mas apelou a que o Executivo tenha em contas as suas propostas, uma vez que a próxima sessão plenária no Parlamento acontecerá apenas na quarta-feira e as medidas, pela rapidez com que a crise evolui, são de “implementação urgente” e poderiam ser tomadas antes disso pelo Governo.

O Expresso sabe que o partido não terá ainda tido resposta do Governo à proposta apresentada na quinta-feira para injetar dinheiro nas micro e pequenas empresas, assegurando o pagamento de salários, mas congratula-se pela adoção de propostas que tinha avançado, como o pagamento dos custos do lay-off através do OE. Até agora, explicou Catarina Martins, o Governo tem dado conta das medidas que vai adotando e o Bloco tem-lhe feito chegar as suas “sugestões e propostas”, numa lógica de “cooperação institucional”.