A sucessão de boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS) com a situação epidemiológica da covid-19 em Portugal permite comprovar como a taxa de letalidade se concentra em pessoas acima dos 70 anos. Das 17 mortes confirmadas no boletim desta quinta-feira, só uma se situa na faixa etária inferior. Se olharmos para o efeito de toda a pandemia, das 60 mortes confirmadas até agora apenas 12 eram de pessoas mais novas e apenas quatro tinham menos de 60 anos. Não há ninguém abaixo dos 50 que tenha sucumbido à doença, ainda que seja nessas faixas etárias que há mais doentes.
A DGS pinta de preto o número de óbitos distribuído por concelho e é Norte que está a maioria, quase metade: 28 das 60 mortes. Em Lisboa estão 18, na zona Centro 13 e no Algarve uma. E confirma-se também a tendência que não é só portuguesa: morrem mais homens do que mulheres. Mais do dobro: 41 homens e 19 mulheres até agora.
Norte com mais de metade dos casos a nível nacional
Novidade também não é que a região Norte seja a que tem mais casos confirmados. Foi lá que os primeiros pacientes foram internados (um tinha vindo de Itália, o outro de Valência) e é lá que há agora 1.858 doentes, mais 341 do que há 24 horas. É mais de metade dos novos casos no país inteiro. No total, o Norte tem 52% das pessoas infetadas em Portugal.
No extremo oposto há uma mudança de posição. O Alentejo era a região com menos casos registados, mas essa realidade alterou-se, com uma subida de 12 para 20 positivos. A Madeira, pelo contrário, foi a única região a apresentar menos doentes hoje do que ontem: eram 16, são agora 15.
O número indicia que tenha havido uma recuperação no arquipélago, o que o boletim da DGS não confirma. A autoridade põe os recuperados mais recentes curados em Lisboa (11), na região Centro (8) e no Norte (3).
No Açores há 24 casos confirmados de covid-19, no Algarve, 89, 435 na região Centro e 1.082 em Lisboa.
Quase o dobro dos recuperados
Nenhuma taxa de aumento foi tão grande como a de pacientes recuperados: 95%. Há cerca de 24 horas, havia 22 pessoas que se tinham curado da doença, agora há 43. Numa altura em que Portugal passou à fase de mitigação da doença, é visível também a tendência de abrandamento do número de pessoas internadas. A verdade é que desta vez a atualização deu uma descida de 85 pacientes, deixando internados 191.
A ideia de internar menos e curar mais no domicílio tem sido repetida pelas autoridades de saúde. Na quarta-feira foi Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, a explicar que a estratégia é de 85-15-5, ou seja, 85% dos doentes terá sintomas ligeiros e que podem ser tratados em casa, 15% serão obrigados a internamento e os restantes deverão passar pela unidade de cuidados intensivos. Para encaminhamentos de doentes, as situações dividem-se, porém, em quatro: os casos ligeiros ficam em casa; os moderados são atendidos nas ADC (Áreas Dedicadas à Covid); os graves, mas não críticos, são avaliados nos hospitais, que decidem, ou não, o internamento; e os críticos são imediatamente internados.
Mais mulheres e na faixa dos 40
Se em vez de região, dividirmos as infeções por género, vemos que as mulheres tomaram a dianteira, ao contrário do que até aqui tinha acontecido. No total, são agora mais 254 pessoas do sexo feminino infetadas.
Na divisão por idades, continua a ver-se um maior aumento entre os 40 e os 49 anos, com uma subida de 120 casos e 24 horas. Esta faixa etária tem agora 671 casos confirmados, contra 637 da faixa etária seguinte (50-59) e 578 nas pessoas entre os 30 e os 39 anos. Destes três grupos, os que têm maior incidência da doença, há apenas uma morte a registar.
No caso dos idosos, os mais vulneráveis, há 484 doentes entre os 60 e os 69 anos, 317 na faixa dos 70 e 314 acima dos 80 anos.
Os mais novos são os que apresentam menos casos: 43 crianças até aos nove anos e 100 entre os 10 e os 19.
Vários municípios com mais de 100 infetados, a maioria a Norte
Uma das novidades da semana no boletim apresentado pela DGS foi a caracterização demográfica das infeções por concelho, uma medida que pretendia trazer transparência, mas começou por trazer dúvidas, com presidentes de Câmara a contestarem os dados apresentados para os seus municípios. Até aqui a DGS dividia apenas 54% dos casos por concelho, daí a discrepância, explicada “com a forma como os dados são reportados localmente”, segundo Graça Freitas.
Desta vez, o boletim divide todos os doentes por concelhos, exceto naqueles em que há menos do que três casos confirmados. O motivo é a confidencialidade dos dados, esclarece a DGS.
Assim sendo, subiram para sete os municípios com mais de 100 doentes de covid-19, cinco a norte. Lisboa e Porto à cabeça, com 284 e 259 casos, respetivamente. Seguem-se Vila Nova de Gaia (163), Maia (157), Ovar (119) Gondomar (114) e Valongo (100). A lista de 10 concelhos com mais doentes é completada por Braga (98), Coimbra (87) e Matosinhos (81).
Mais de 22 mil testes, mais de 16 mil negativos
Na conferência de imprensa de atualização dos números, Graça Freitas afirmou que já foram testadas mais de 22 mil pessoas em Portugal. “22.257 pessoas suspeitas, todos estes 22.257 foram submetidos a teste. Além destes muitos mais fizeram testes. Agora vamos continuar a mesma metodologia”, explicou. Ao seu lado, o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, contou que já chegaram a Portugal “5 mil testes dos 80 mil que estavam previstos chegar esta semana”.
Dos testes até agora realizados, houve 16.568 a dar resultado negativo, por oposição aos 3.544 positivos. Porém, há ainda 2.145 a aguardar a análise laboratorial, que serve para tirar as dúvidas de um teste. Quase 15 mil pessoas estão em vigilância pelas autoridades de saúde.
12 novos países na lista de casos importados
Se na última atualização a lista de países dos quais Portugal importou casos de infeção tinha sido mantida, desta vez há mais 12 países na lista. São eles Argentina, Cuba, Israel, Jamaica, Luxemburgo, Maldivas, Polónia, Qatar, Rep. Checa, Tailândia e Venezuela, todos com um caso, e ainda os Estados Unidos, de onde vieram dois.
Portugal passou assim de 142 para 161 casos importados, alguns em países que já constavam dessa lista. Espanha é um deles, agora com mais 59 casos, seguida de França, com mais 40, Reino Unido com mais 15 e Emirados Árabes Unidos, de onde vieram mais 14 pessoas que contraíram o vírus.