“Primeiro quiseram pôr-nos a gozar férias antecipadas. Dissemos que não. Depois decidiram despedir 150 pessoas e entrar em layoff.” É assim que um trabalhador da fábrica de colchões Molaflex resume o que aconteceu na empresa no final da semana passada.
No seu caso, a confirmação do despedimento foi dada por telefone, já no sábado. “Ligaram da empresa de trabalho temporário. Disseram que tinham más notícias para mim. E agora como é? Quem me paga? Quando me pagam?, não sei nada”, diz este trabalhador à beira dos 60 anos, certo de que o futuro terá de ser a reforma.
“Tenho 48 anos de trabalho e tenho, felizmente, os filhos criados, a vida organizada. Sei que na minha idade não vou conseguir emprego em tempos de crise”, diz ao Expresso, ainda “chocado com a forma como tudo aconteceu" e foi apanhado de surpresa, "apesar de estar habituado a viver de olhos bem abertos e já ter visto de tudo”.
Na verdade, é um “temporário” que está na empresa desde 2013, a cumpria um horário de trabalho, no turno das 06h às 14h30, refere.
Pede para preservar a sua identidade, mas conta a história sem hesitações. “Conto o que sei e o que nos foi dito: a empresa tinha de fechar porque tinha falta de matérias-primas porque os fornecedores de espuma e de outros componentes de Ovar estavam fechados devido ao cordão de proteção criado no concelho por causa da covid-19”, diz.
Por favor ligue mais tarde
O Expresso tentou contactar a empresa, mas na sede da Molaflex responde apenas um atendedor automático de um número que “não tem voice mail ativo” e pede "por favor ligue mais tarde".
O Bloco de Esquerda, em comunicado, refere que a empresa tinha mais de 350 trabalhadores antes de proceder a este despedimento. “Alguns destes trabalhadores já trabalhavam nesta empresa há cerca de 7/8 anos, mas através de empresas de trabalho temporário, numa clara violação da legislação existente, já que eram todos postos de trabalho permanente. Todos estes 150 trabalhadores que foram despedidos eram de empresas de trabalho temporário”, afirma o BE.
“Esta empresa recebeu ao longo dos últimos anos, uma série de apoios da União Europeia, do Estado português e da autarquia”, afirma o Bloco que já pediu esclarecimentos ao Governo.
Há um ano, a Molaflex, cuja produção estava a ser deslocalizada de São João da Madeira para Santa Maria da Feira, tinha um projeto de investimento de 8,4 milhões de euros e assumiu o compromisso de criar 100 postos de trabalho até 2021, tendo garantido um contrato de incentivo fiscal pelos investimentos realizados.