Coronavírus

Covid-19. Poluição em Lisboa cai para metade numa semana

Dados da Agência Europeia do Ambiente indicam que as concentrações de dióxido de azoto (NO2) registadas na capital portuguesa na semana passada equivalem a 51% das registadas na mesma semana em 2019. Mas há nuances nesta redução da poluição. Roma ou Madrid também viram melhorada a qualidade do ar devido à quarentena provocada pela crise pandémica

TIAGO MIRANDA

A poluição do ar em Lisboa está a diminuir. As concentrações de dióxido de azoto (NO2), emitido sobretudo pelo tráfego automóvel na cidade, caiu cerca de 40% na semana passada por comparação à anterior e registou menos 51% de concentração quando comparada com a mesma semana do ano passado. Os dados foram esta quarta-feira divulgados pela Agência Europeia do Ambiente (AEA), que analisou os impactos na qualidade do ar nas principais cidades europeias, resultante das medidas de quarentena para limitar a propagação da covid-19 na Europa.

“Os dados da AEA estão em linha com o esperado e a análise dos dados já efetuada pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova (FCT NOVA) está em linha com uma redução para cerca de metade das concentrações de dióxido de azoto nas estações de monitorização de tráfego de Lisboa na semana passada, em relação à média entre janeiro de 2019 e as duas passadas semanas”, afirma ao Expresso Francisco Ferreira. O professor da FCT NOVA e presidente da ZERO explica que o dióxido de azoto medido por diferentes estações de monitorização na cidade é sobretudo consequência direta das emissões dos veículos, e que havendo uma redução muito significativa da circulação destes na cidade, como indicam dados da Câmara Municipal, a concentração de NO2 é substancialmente reduzida. A redução do número de aviões ou de navios a aterrar ou aportar em Lisboa também contribui para a redução da poluição atmosférica.

Porém, o engenheiro do ambiente adverte que “a metodologia utilizada pela Agência Europeia do Ambiente tem grandes fragilidades, dado que recorre à comparação de apenas uma semana com uma outra semana, seja ela a anterior ou a mesma no ano passado, quando também devemos ter em conta dados relacionados com as condições meteorológicas”. Isto porque, esclarece, “na semana de 16 a 17 de março registaram-se valores de velocidade do vento que facilitaram a dispersão dos poluentes e menores concentrações, enquanto na quinta-feira tivemos alguma influência na região de Lisboa de partículas vindas no Norte de África”.

Segundo Francisco Ferreira, isso pode explicar porque essa semana foi menos boa em termos de concentrações do mesmo poluente que outras duas em meses diferentes, em 2019. Porém, prefere esperar pelo final desta semana para ter 10 dias úteis para analisar “de forma mais consistente e tirar conclusões mais robustas sobre a redução da poluição”.

Poluição cai em toda a Europa

Os dados recolhidos pela Agência Europeia do Ambiente permitem verificar um cenário de quebra generalizada da poluição do ar na Europa, devido sobretudo à redução do tráfego automóvel. Em Milão, as concentrações de NO2 caíram 24% nas últimas quatro semanas quando comparadas com as quatro semanas anteriores; e em Roma a quebra foi de 26-35% por comparação ao mesmo período de 2019. Já em Barcelona e em Madrid, a quebra dos níveis de NO2 entre a semana passada e a mesma semana do ano anterior foram respetivamente de menos 55% e menos 41%.

Contudo, o diretor executivo desta agência, Hans Bruyninck, sublinha que “é preciso pensar a longo prazo os problemas de qualidade do ar, o que requer novas políticas e investimentos a longo prazo”. Bruynicck teme que “os múltiplos impactos que a atual crise pandémica está a ter na sociedade possa ir contra esses objetivos de transição para uma sociedade mais resiliente e sustentável”.

Francisco Ferreira também receia que esta redução de poluição seja conjuntural e não estrutural. E lembra que “as partículas inaláveis e o dióxido de azoto têm efeitos nocivos na saúde, uma vez que o NO2 reduz a imunidade do organismo e as partículas são responsáveis por diferentes problemas respiratórios e cardiovasculares que tornam também o nosso organismo mais suscetível a doenças como a covid-19”.