Se alguém ainda tivesse dúvidas do impacto económico da pandemia de covid-19 em Portugal, os números – que ainda agora começam a chegar – dissipam todas as dúvidas. Vem aí um rombo nos cofres do Estado e de muitas empresas privadas. Tal como avançou o Expresso no último fim de semana, pode estar em causa uma quebra do PIB até 8,5% em 2020.
Afinal, o consumo de eletricidade, nas últimas duas semanas, afundou 8%, e o número de compras com multibanco caiu para quase metade. No sector dos transportes, o cenário é trágico: a Comboios de Portugal (CP) registou uma quebra de 85% nas viagens de longo curso, enquanto a transportadora Transdev queixa-se de uma redução da procura na ordem dos 90%. As autoestradas estão cada vez mais desertas, já que o número de veículos a circular caiu 75%.
Consumo de eletricidade afunda 8%
O consumo de eletricidade é um sinal importante para medir o pulso à economia. Segundo dados da Redes Energéticas Nacionais (REN), compilados pelo Expresso, houve uma redução significativa do consumo de eletricidade no país, desde que foi anunciado o primeiro caso de covid-19 no país.
De domingo, 15, a sábado, 21 de março, Portugal consumiu 934,6 gigawatts hora (GWh), menos 8% do que tinha consumido na primeira semana do mês. Esta queda do consumo não foi repentina. Na semana de 8 a 14 de março o consumo de eletricidade em Portugal já tinha recuado pouco mais de 3% face à semana anterior. Mas na semana de 15 a 21 voltou a somar uma redução de cerca de 5% em cadeia.
Ao longo deste mês, a maior redução aconteceu a 19 de março, o dia imediatamente a seguir a ser decretado o estado de emergência. Nesse dia, o país consumiu 134,4 GWh, menos 7,5% do que tinha consumido na quinta-feira anterior. E menos 11,3% do que tinha consumido 15 dias antes.
Número de compras com multibanco cai quase para metade
Na semana passada, o número de operações de compra de bens realizadas utilizando a rede do multibanco caiu para quase metade do valor registado semanalmente antes do início da crise trazida pelo novo coronavírus. Segundo a SIBS, o número de compras na rede multibanco foi, durante a semana passada, 44% mais baixo do que na última semana antes do início da crise.
CP. Procura de viagens de longo curso caiu 85%
A partir desta quarta-feira, a CP - Comboios de Portugal vai reduzir o número de comboios de longo curso, devido a uma quebra na procura de pelo menos 85%. Relativamente aos comboios urbanos, a empresa indicou que a redução média da procura é de 70%.
Segundo informou a empresa esta quarta-feira, passarão a ser realizadas 12 circulações de Alfa Pendular por dia (54% da oferta regular) e no serviço Intercidades 40 circulações por dia (69% da oferta regular).
Na semana passada, em 17 de março, a CP tinha anunciado já a redução de 350 ligações diárias para 1.050, adequando assim a oferta de viagens à procura, que então tinha recuado 60%.
Transdev: quebra de 90% nas receitas
O Grupo Transdev anunciou esta quarta-feira uma quebra de 90% nas receitas devido à pandemia da covid-19, apelando ao Estado que regularize o pagamento de nove milhões de euros, para conseguir "sobreviver" e pagar cerca de 2.000 salários.
“Para reduzir o impacto desta situação nas contas da empresa e assegurar o pagamento de salários aos cerca de 2.000 trabalhadores do Grupo no próximo trimestre, a Transdev apelou ao Estado para regularizar o pagamento imediato de nove milhões de euros que tem em dívida para com a empresa”, refere o grupo em comunicado enviado à agência Lusa.
Tráfego nas autoestradas: menos 75%
O tráfego nas autoestradas portuguesas sofreu nos últimos dias uma quebra na ordem dos 75%, em média, a nível nacional, devido à pandemia da covid-19, revelou o Ministério das Infraestruturas e da Habitação.
Em comunicado, o mesmo Ministério indica que entre as autoestradas onde esta redução se fez sentir estão a A1 (Autoestrada do Norte), a A2 (Autoestrada do Sul), a A4 (Autoestrada Transmontana), a A23 (Autoestrada da Beira Interior) e a A25 (Autoestrada das Beiras Litoral e Alta), o que "reflete que os portugueses estão a cumprir" as medidas adotadas pelo Governo e os conselhos da Direção Geral da Saúde, no sentido de "limitarem ao mínimo as suas deslocações".