Mário Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), defende que a Europa deve agir rapidamente e sem contemplações para travar os efeitos da crise da Covid-19 mesmo que isso signifique uma rápida subida da dívida pública dos países. Num artigo publicado esta quarta-feira no jornal britânico "Financial Times", Draghi avisa que “uma recessão profunda é inevitável” e que o desafio que enfrentamos “é sobre como agir com força e velocidade suficiente para prevenir que a recessão se transforme numa depressão prolongada, agravada por uma pletora de incumprimentos que provoque estragos irreversíveis”
Para o ex-banqueiro central italiano, não há dúvidas que os governos devem agir para compensar o impacto para as famílias e empresas: “A perda de rendimetno no setor privado – e qualquer divida emitida para a preencher – deve eventualmente ser absorvida, no todo ou em parte, pelo balanço dos Estados.” O que irá, necessariamente, traduzir -se num “aumento significativo de divida pública” que, ainda assim, pode não trazer um aumento de custos relevantes já que as taxas de juro estão baixas e a expectativa é a de que continuem assim durante bastante tempo. O artigo não menciona qualquer forma de mutualização de dívida europeia ou as coronabonds que atualmente se debatem na Europa. Nem faz referências explícitas à política monetária e ao papel do BCE.
Para Draghi, “a prioridade não deve ser apenas a de fornecer rendimento básico a quem perde o emprego”: em primeiro lugar, “devemos proteger as pessoas de perder o emprego porque, caso contrário, sairemos desta crise com a capacidade produtiva altamente afetada. Refere o ex-presidente do BCE que apoios ao emprego e desemprego bem como o adiamento de compromissos fiscais e linhas de liquidez são fundamentais. Mas é preciso uma abordagem mais abrangente: “Devemos mobilizar todo o sistema financeiro: mercado de obrigações, principalmente para grandes empresas, o sistema bancário e em alguns países até o sistema postal para as restantes pessoas.”
O economista considera que tudo isto deve ser feito de imediato, sem atrasos ou burocracias, que os “bancos devem emprestar dinheiro a custo zero às empresas preparadas para salvar empregos” e que o capital necessário deve vir de “garantias públicas”. Considera que, “em alguns aspetos, a Europa está bem equipada para lidar com este choque extraordinário”, mas avisa que é necessária uma mudança de abordagem como se estivéssemos em tempo de guerra, que o “custo da hesitação pode ser irreversível” e que “a velocidade é absolutamente essencial para a eficácia”.
Para terminar, uma mensagem aos responsáveis europeus: “Como Europeus, devemos apoiar-nos mutuamente naquilo que é evidentemente uma causa comum.”