Coronavírus

Covid-19: Mil portugueses assinaram petição pela reposição de voos entre Maputo e Lisboa

Estão preocupados com o abastecimento alimentar, porque a África do Sul também sofre restriçoes com a pandemia. Estão preocupados com a chegada da pandemia de coronavírus ao país onde vivem, porque as autoridades moçambicanas só têm tido capacidade de fazer dez testes por dia. Querem voltar a Portugal sem “dar a volta ao mundo com a Qatar Airways, porque a viagem tem riscos”

Foto Getty

“Queremos pedir ao Governo de Portugal e ao Sr. Presidente da República que intervenha junto da TAP para que os voos entre Lisboa e Maputo sejam repostos. Há atualmente cerca de 20.000 cidadãos portugueses a residir em Moçambique que podem necessitar de sair do país por diversas razões”, lê-se no texto de uma Petição Pública que circula por WhatsApp entre a comunidade portuguesa residente em Maputo. Ao início da tarde desta quarta-feira, já tinha 988 subscritores.

Uma das portuguesas que assinaram este texto é uma advogada de 67 anos. “Estou muito preocupada porque sou asmática, o que me coloca num grupo particularmente vulnerável. As respostas dos canais oficiais são insuficientes. Sabemos que só quem tem bilhete consegue embarcar num eventual voo que venha a ser realizado, mas não se consegue comprar bilhetes na TAP, que, quando contactada por telefone, não dá respostas às nossas questões”.

“A 18 de março recebemos um email do consulado-geral, dando conta de que as ligações aéreas entre Portugal e Moçambique não seriam abrangidas pela decisão do Governo português de suspender os voos de e para fora da União Europeia, a partir das 24h00 de 19 de março. Estamos a 25, sabemos que foi feito um voo no dia 23, e o feedback que temos é que a TAP só voará com acordo prévio entre as autoridades portuguesas e moçambicanas”, prossegue.

“Tudo isto é muito inquietante. Sempre, ou muitas vezes, que precisávamos de serviços de saúde mais específicos íamos à África do Sul, mas agora não dá. Mais, com as limitações ao trabalho que tomámos por precaução, não sei como vou pagar a renda este mês.”

“Temos dispensa, mas tenho medo de ficar sem comida com duas crianças em casa”

“Vivo em Maputo há vários anos anos e tenho duas crianças pequenas que estão em casa desde que as escolas fecharam. Vim para cá por causa do meu marido mas, neste momento quero regressar com as minhas crianças. Embora aqui estejamos habituados a fazer dispensa, a verdade é que tenho comida quanto muito para um mês. E tenho receio do que possa acontecer. Grande parte dos abastecimentos vêm da África do Sul, mas durante três semanas a fronteira estará mais fechada. Passou a ser obrigatório ter visto, coisa que até aqui não acontecia”, conta ao Expresso por email e whatsapp.
Esta mulher também assinou a petição a pedir a reposição dos voos: “A Exxon vai repatriar funcionários e a Eni, uma companhia italiana, também. O meu marido vai ficar, porque tem responsabilidades profissionais que não lhe permitem sair. Tem ido trabalhar com medidas de segurança. Já há menos gente no escritório, estão a revezar-se. Eu e as meninas já estamos em casa há uma semana”.

“Preferia regressar na TAP em vez de arriscar uma volta ao mundo com a Qatar”

Esta mãe de família está disponível para “dar prioridade a quem pertence a um grupo de risco, e esperar pela minha vez de sair. Para isso, precisamos e queremos uma garantia de que poderemos sair quando chegar a nossa vez. Uma data, uma previsão. Não temos nada.
Vou arranjar uma casa para fazer quarentena quando, finalmente, conseguirmos chegar a Portugal. Não queremos sobrecarregar o sistema de saúde português, mas também não queremos ficar esquecidos aqui em Maputo. Sabemos que o nosso país está em ebulição e em Estado de Emergência mas não compreendemos o esquecimento a que se sentem votados os portugueses que vivem em Moçambique”.
“Tenho bilhetes para mim e para as crianças na próxima com a Qatar mas a viagem tem riscos porque é uma volta ao mundo: de Maputo para Joanesburgo, depois para Doha, daí para Londres e daí tentar voar para Portugal”.